domingo, 28 de junho de 2015

Eu não devia estar feliz.

Eu não devia estar feliz.
Tenho quarenta anos e não tenho nem metade do que o meu pai tinha na minha idade.
Não tenho filhos, mas luto.
Minha fama e meu sucesso são controvérsia, duvida,
Semente que, se tiver sorte, virá temporã.
Trago no peito um amor que já nasceu maduro,
Com pressa de aproveitar o fim da estação, antes que seja tarde,
E venha o frio, e toda a paisagem fique impossível para o crescimento rápido, mas vulnerável, dos primeiros anos.
A água já é pouca.
Todos os outros, já encascados e sem folhas, se preparam para hibernar.
Mas eu, de folhas amareladas, em tronco ainda verde, estendo minhas mãos frágeis ao céu congelante.
Se esses brotos não crescerem logo,
E  as folhas caírem antes de se formarem os novos nós...
Nem folhas novas,
Nem flor cheirosa.
Fruto nunca,
Ao invés de 200 anos,
Dois.
Não tenho metade de minha família.
Não vejo a  metade que sobrou.
Novamente me fui dos amigos.
Confusos sempre me deixam ir.
Ele é assim mesmo.
Gostava de cães,
Agora, amo gatos.
Vivia além.
Me atenho a fatos.
Andava descalço e de cabelos soltos e despenteados.
Me aqueço em capa, sob o chapéu me assombro,
E também me têm os pés cativos, azuis sapatos.
Cicatrizes no rosto.
Manchas no nariz.
Cabelos nos ouvidos.
Fios  brancos nas barbas.
Mais que trocados nos  bolsos!
A pele que, sem o sol, perde o matiz.
O pulmão que chia.
As mãos que tremem.
O fogo que apaga.
A memória que falha.
E até que o nexo disso tudo,
Que nesse exato momento,
Novamete me arremessa no relento,
Ficando transparente até quase desaparecer por completo.
E me trazer do gelo da espera,
Ao fio da entrega,
Ao momento ofegante e quase sufocante da apnéia expontânea e eterna do triz!!!
E eu paro e me percebo ali.
De novo.
Fascinado pela emoção.
Sorrido  antes do resultado.
Tão tolo.
Tão assim.
Vôo da perdiz.
Não.
Eu preciso voltar ao solo antes de voar.
É temporada de caça, e eu não sou caçador.
Eu não devia estar tão feliz.
Eu não devia nem estar feliz.
Eu não devia.
Mesmo.
Mas estou.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Matemática

Foi pelos idos de 2000 que eu finalmente concluí o segundo grau por apostilas e sem professor, no Centro de Estudos Supletivos de Niterói.
Levei 8 anos pra fazer isso, pois vivia me mudando de estado, cidade e humor, devido a ser nesse entremeio que eu fui militar, pai adotivo, usuário crônico de cocaína, louco abstêmico e semi-pastor evangélico. E agora, semi-desiludido.
No fim desse conjunto de aventuras, decido pegar o conteúdo final do curso. As temíveis apostilas oito e nove, de Química, e também as vinte apostilas de Física e Matemática. Eu havia me saído muito bem, como sempre desde menino, em História e Português, mas nas exatas eu nunca me aí bem. Gostava de Geometria, mas fugia dos cálculos. Nem imaginava que Cálculo também é uma matéria inteira dentro de Matemática. Aquilo me dava dor de cabeça e sono.
 Deitei no sofá eu comecei a olhar, ainda em Química, as malditas fórmulas e tentar entender o que queriam dizer aqueles "x" e "y", aquelas letras e números. Larguei de lado, fumei um beck e peguei a apostila um de Física. Que horror! Melhor tentar a de Matemática. Tanto pior.
 Olhei pro teto e fiz uma oração. Era um semi-desiludido, ainda tinha esperanças em deus e tal. Disse que se não viesse do além de eu entender aquilo, eu nunca entenderia. E dormi com apostila no peito, chapado.
 Quando acordei , olhei já com raiva para a apostila. Era o mesmo e nada tinha mudado. Mas ao olhar para os números, alguma coisa aconteceu. Eu Entendi!
Peguei as apostilas uma por uma e fui fazendo, de uma maneira que nunca havia acontecido. Lia , fazia o exercício, ía até o CES e fazia a prova. E gabaritava!!! Gabaritava Matemática e Física!!! Química, nem incomodou.
 Um milagre a mais para deus e tal.
Terminei o segundo grau e não fui além. Levei bomba no vestibular de Teatro, que foi coincidentemente quando descobri que adorava teatro, mas não queria representar no palco ninguém  além de meu próprio personagem. E o milagre foi em vão.
 Mas continuei estudando Física e Matemática. Pouquinho e com liberdade de leigo. Por gosto que criei mesmo. Fui conhecendo as outras ciências e o ser humano através delas.
 A Matemática me levou aos filósofos, os filósofos acabaram com minhas ilusões.
Deixei de ser supersticioso e de ter confianças vãs. Aprendi o valor da vida e do ser humano. E através das Ciências Humanas cheguei à psicanálise, no campo da Psicologia. Aprendi o que é o subconsciente e até o que é o inconsciente. E me aventurando na Biologia, o que é memória.
 Lembrei de deus e tal. Coloquei todos os milagres sob nova investigação.
 E deus e tal subiram no telhado...
 Como foi que eu cheguei a ser ateu? Eu que vi milagres?
 Me lembrei que o conhecimento não nasce com o homem. Ele entra pelos sentidos e se acumula em memórias nas camadas de consciência da mente, armazenada em caminhos de memória no cérebro. Por onde uma sinapse se formou entre os neurônios, o caminho pode ser refeito. Se não for danificado ou atrofiado pela falta de exercício, ou ainda modificado por um trauma, o conhecimento ficará armazenado no cérebro, em um caminho de eletricidade bioquímica, no centro e no lobo cerebral a que pertence.
    E na mente? Como funciona o conhecimento na mente? Ele se forma junto com ela, com cada sinapse formada e perdida, ela se conforma, se a sua mente consegue entender os símbolos apresentados, significa que você foi exposto ao conhecimento que o formava. Tendo já na mente e no cérebro os caminhos que você percorreu. E particularmente na mente, tenha você entendido ou não no momento da experiência, cedo ou tarde ela fará uma associação com as informações.
 Os impulsos e negações ou afirmações da mente em ato reflexo, tornados conscientes ou não, vão descer pelas camadas da mente, e se relacionar livremente no inconsciente, provocando ondulações nas névoas do subconsciente, e atravessando as camadas da mente, uma vez relacionadas, emergirão como entendimento da informação absorvida e relacionada. Como um estalo. Uma idéia. Uma luz vinda das profundezas da escuridão, formada por combustíveis, comburentes e faíscas e reações adquiridas e perdidas no tempo.
Quanto tempo leva até isso acontecer ? Não há medição de tempo no subconsciente, e nem mesmo existe forma de tempo no inconsciente. Não há orientação ali. Acontecer e coincide com o tempo aqui.
 Foi assim que depois de anos de escola e esforço, um dia emergiu das camadas da minha mente o sentido que havia em toda física e matemática que eu havia visto desde criança. E também toda a lógica e o sentido que eram necessários pra entender aquilo tudo.
 Talvez a trasferência de responsabilidade tenha facilitado o trânsito da luz vinda das trevas, talvez o beck, ou o sono. Mas aquele conhecimento, como qualquer outro, não veio de fora, e sim de dentro. Emergiu da mente, e não aterrizou no cérebro. Veio de mim, e não de deus e tal.
Aquele entendimento foi o que me levou a ser o ateu que sou hoje.
Sou ateu pelo resultado de uma reza, um desejo. E esse desejo foi atendido por mim. Desde aquela tarde, até o dia de hoje. Eu quero entender o máximo que puder disso tudo. E já entendo Física e Matemática, um pouco.
Um feito a mais pra mim.
Um milagre a menos pra deus e tal.
"Não há deus..."
Somos todos os tais.                    


terça-feira, 23 de junho de 2015

As criancinhas

Deixai vir a mim as criancinhas.
Menos as macumbeiras, as gays e trangêneras, as atéias, as pretas e as pobres.
Á estas últimas, taquem-lhe paus e pedras,
E dêem-lhes cadeia logo.
Pois são semente do mal.

mas ser escritor...

mãos atrofiadas e odiar escrever. mas ser escritor por gostar de pensar e falar, nem sempre na ordem prevista...

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Mundofeliz pra quem quer!!!

Mundos são o meu prato predileto,
                               e eu gosto de comer Mundofeliz.

 Passo fome se não puder fazer as pessoas felizes,
 Sofro com dor pela falta dos seus sorrisos.
 A presença de lágrimas de medo e ódio, tornam a vida envenenada para mim.
 Então fui fazer mais, pra comer e pra vender.

 Mundofeliz é tudo que eu tenho,
      para servir e para mim mesmo.
 Mundofeliz pra quem quer!!!

 Mas as pessoas acharam insosso, e outros, doce demais.
 E olha que as pessoas nem comem mundos, mas só pedacinhos.
 E do pouquinho que comem, cospem as felicidades e separam os sonhos.
 Tiram amarguras e pesadelos dos  bolsos,
  E colocam no seu bocado, pra ficar com gosto de mundomundiça ( Munxoxo).

 As pessoas gostam é de mundomundiça, mesmo.
 Mas também não conseguem comer tudo,
                           então sempre tem um pouco guardado,
                           pra colocar onde estiver mundofeliz demais.
 E o mundofeliz encalhou.

 Eu.
 Se eu não posso admirar, então não ligo.
 Sem fazer caso, olho pro outro lado.
 Tem sempre mundofeliz em todo lugar ,
     se você não der atenção demais pro mundomundiça.

(As vezes choro baixinho.
   Escapa...e estrago minha própria comida.
                     E vou lá fazer tudo de novo)
 Mas, Cada um come o que quer, né...
 No fim envenenam a si mesmos,
 Minha parte e minha consciência ficam limpas.

 Levo o meu bocadinho de mundofeliz de volta pra casa.
 Ponho na geladeira pra não estragar.
 Levo ao fogo pra requentar.
 Cozinho, sirvo, assopro, sorvo.
 Como sozinho, com meu suor ainda na testa,
  Ou no máximo com meu amor e meus gatos.

 Quem multiplica o mundomundiça tá tudo enriquecendo.
 Vendendo bocadinhos roubados de comida envenenada.
 O maior sucesso do mercado ( Munxoxo).
 Mas não vem jogar isso no meu prato, não, por gentileza , sim?
 E, já que a prioridade aqui não é ficar rico, mas não passar tristeza,
                                                                       E principalmente não comer mal...

 Mundofeliz pra quem quer!!