domingo, 31 de janeiro de 2010

Re.i.co.mei.ç.o

-->
1-Começou.
2-O que ?
1-Uma coisa, uma forma, um conceito.
-isto
-Começou pelo meio
e vai para frente em
 TODAS AS DIREÇÕES
até chegar novamente ao meio,
que é o começo.
2-Mas espera aí. Para chegar no começo,
que é o meio,
não tem que passar primeiro pelo fim?
1-Não.
-se começar pelo meio,
jamais terá fim.
-Na verdade o fim
é só um a impressão
que se tem
antes de chegar de novo
ao começo.
2-Peraê!
-Sem entender o que você fala,
como irei te entender?
1-Quando eu falo você sente?
2-Sim.
Eu sinto.
1-Este é o meio.
Comece por aí.
1+2- O fin.í.ci.o
é s.ó um.a in.press.ã.o
q.u.e ant.es.cede
a.o
re.i.co.me.i.ço

TEORIA E PRÁTICA DO SER ETERNO

      Se começarmos uma investigação de nós mesmos, com todos os recurso disponíveis a qualquer indivíduo, começando pelo ponto médio, considerando-se esse ponto o momento presente, inauferível e imensurável por sua eternidade indivisível, e investigarmos em ambos os sentidos temporais, passado e futuro, e também no espaço, para dentro centralizando e para fora em todas as direções possíveis, penso que chegaremos ao reinício do momento de onde, na verdade, nunca nos movemos, apesar de estarmos sempre nos movendo por todos os caminhos antes citados.
     E na verdade, penso que é isso que somos, o que fazemos em última instância.
     De um momento eterno observamos o cosmos para dentro e fora por dentro e fora. Para isto inventamos a geologia, a arqueologia ,a astronomia, a astrofísica, a biologia. Para seguir essas direções . Dentro , fora , passado , futuro. Para fugir da única coisa que une tudo isso, o aqui e agora. Buscando informações sobre o universo, interno e externo. E e interpretandoos essas informações com mais ou menos coesão harmõnica, e repartindo entre nós essas impressões. Conhecer e sentir essas impresões é que nos dá sentido a vida ,é o alvo da busca e também seu maior incentivo, sua maior droga, sua isca.
     "Decifra-me ou te devoro", disse a esfinge, formada de animais, de gente, de céus, de Terra, de direções.
     A curiosidade mata de curiosidade, só pra saber como é morrer. Ou a curiosidade nos faz viver, só pra saber como é viver?
     Se ser o que somos é fazer o que fazemos, somos buscadores, e também o alvo de nós mesmos. Atraímos a nós mesmos a essa busca de nós mesmos e isso apenas por nós mesmos. Pela nossa única vontade comum. Conhecer em todos os sentidos.
    É isso que somos, de onde viemos e para onde vamos.
    Sendo agora o que seremos e sempre fomos, o ser, somos um verbo que se conjuga no presente. E o passado e o futuro são erros de conjugação, do que o tempo não é em detrimento do que a eternidade é. O ser, nós.
   Não somos tempo, não somos criados e nem consumidos por ele. Ele nem é real. Nós é que somos. Como se fossêmos apenas o agora e o aqui, e o passado, o futuro e o lá seriam os alter-egos de um distúrbio dissociativo esquizofrênico geral.
  "SOMOS"(nozes? cascas? frutos? sementes? árvores?)!!!
  Ou será tudo uma coisa só?
           AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!


"O FINÍCIO É A IN-PRESSÃO QUE ANTES-CEDE O REI-CO-MEI-ÇO"

sábado, 30 de janeiro de 2010

PLATÔNICO

Continuo olhando,
Meu olhar está preso ao seu corpo.
Meu corpo me pede água e comida,
Mas não me movo,
E quando penso que vou parar,
Me pego olhando de novo,
O que tem essa menina?
Que olho e que só por isso tanto me inspira?
Não sei se a beleza ou o olhar,
Só sei que é mesmo linda,
Como uma escultura ,
Que além de bela, respira.

Duas ou três veses mais

Ning era um rei poderosíssimo e todos conheciam a fonte de seu poder. Vinha de um amor singular. Um amor que de tanto amar a quem quer que visse, concedia a tal pessoa qualquer desejo que fizesse.
Onde isso o fortalecia? Ora, tudo o que fosse concedido por ele voltava para ele duas ou três veses mais.
Tinha ao seu redor pessoas felizes, pois todos tinham o que queriam.
Um dia o rei Ning encontrou um bebê abandonado. Esse bebê era de uma terra distante, onde os bebês choravam desde o nascer, porque já nasciam sem acreditar em desejos, e seus pais, por serem também descrentes, não visitavam o reinado de Ning, para ter desejos atendidos. Era um lugar triste, onde tudo dava muito trabalho pra ser conseguido, e nada vinha de graça.
Ao encontrar o bebê o rei levou-o para casa para que ele fosse cuidado pelos melhores educadores do reino. Se bem que eles sempre diziam:
-esse menino é de fora , não sabe desejar. Sim , porque no reino de Ning era muito importante saber desejar, o desejo sempre se realizava então o perigo era se arrepender.
Logo na mudança da primeira idade, Algen, agora de longe o preferido do rei em todo o reino, teve sua primeira crise de fé e sem surpreender a maioria, passou a negar que obtivesse qualquer coisa por desejos ao rei. Este mesmo desgostoso com o fato, o manteve sob sua proteção, desejando que um dia ele se arrependesse.
Algen tinha muito sucesso em tudo que fazia, mas todo o crédito ia para o rei Ning, ficava apenas com o crédito de ter sorte, por ficar tão perto do rei. Isso deixava-o enfurecido.
Passou então a procurar uma resposta racional para todos os seus sucessos. Mas só encontrava razão para o que conseguia longe do rei.; Um dia Algen ficou muito perturbado por tentar, sem conseguir, encontrar uma explicação, para o como obtivera sucesso em algumas áreas de sua vida. Não aceitava que foi apenas por desejar, queria ter o mérito de todos os seus sucessos. Quis então tirar a prova derradeira dos poderes do rei, pensou uma dor horrível para si mesmo, uma dor de morte, pois assim se fosse verdade , como uma vingança por roubar-lhe o mérito de seu sucesso, o rei sentiria uma dor maior ainda e foi na direção do rei.
Ao chegar perto e ser visto, disse de sopetão o que viera fazer, parecia que sinalizando sua crença inconsciênte em que aquilo ia doer, e começou mesmo a sentir uma dor fortíssima no peito e no braço esquerdo.
Gritou então ao pai, dizendo que agora acreditava e que se arrependia, pois sabia que o rei também sentiria um dor ainda maior,e que morreria logo em seguida.
Enquanto segurava seu predileto nos braços , Ning deixou um papel cair no chão,e percebendo que Algen sentia a dor da morte, disse:
-Algen você será sempre meu preferido, mesmo sabendo que vai morrer, sou grato por ao menos lhe ver compreender e crer nos desejos. Não posso salvá-lo da morte, pois foi você que desejou-a, mas peço que deseje a felicidade eterna, pois não é preciso estar vivo para ser feliz.
E ele assim o fez, não entendendo ainda por que o rei não estava sequer passando mal, passou a mão pelo chão e encontrou o papel, ergueu o papel à altura dos olhos e viu o que estava escrito. Era uma certidão de adoção, o rei o havia adotado.
Expressou então um olhar de compreensão, que era quase um sorriso, e em meio a tanta dor expirou.
Seu pai, deu um grito horrivel e chorou amargamente. Mas não morreu, continuou realizando desejos, no mesmo reino.
O que então Algen teria compreendido naquele último momento?
Ele percebeu o tamanho do amor do rei por ele, e ficou feliz de saber que o rei não morreria. Pois nem mesmo a dor da morte em arrependimento, sequer pode ser comparada com a dor, mesmo em meio a gratidão, da perda de um filho.
FIM

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Doping

 

  Fast lane era seu codinome. Nas pistas imbatível. Corria como se fosse instigado pelo próprio Hermes a isso. Batera todos os recordes que encontrou até aquele dia.
  Estava concentrado e olhava a linha de chegada. Seriam cem metros para mais um limite. Ouviu o tiro pirotécnico e lançou seu corpo à frente.
  Sentia seu coração bater com cada passada, fazendo um ritmo de suas batidas.
  O horizonte trêmulo estava lá, mas como sempre, agora era percebido apenas com referência de direção, a imagem não importava. Tinha que sentir o toque no chão e reagir corretamente à gravidade, e com equilíbrio, em relação a tal força, à musculatura e suas contrações e relaxamentos.
  Cruzou a linha.
  Venceu, e desta vez não só bateu o recorde, fez isso com mais de um segundo e meio de tempo a menos.
  Após todas as comemorações, estava como sempre descansando e curtindo com os amigos quando o telefone tocou.
  Era seu técnico :
  -Tenho uma péssima notícia. Seu recorde foi cassado por doping.
  Seu coração bateu na menor velocidade que já fizera. Sentou-se sem saber o que fazer. Parecia que seu mundo caía.
  -Como assim doping? Nunca fumei um cigarro!
  Lembrou-se de que naquele dia tinha tomado um chá com um amigo, que havia voltado de uma viagem a Bolívia, que se sentiu meio estranho na hora, mas será que foi isso que deu o resultado?
  Sua mente teve então um brilho que se manifestou no seu olhar. Por apenas um momento, toda ética desportiva e honra de ser limpo cedeu ao seu objetivo todos esses anos: Ser mais rápido. Mais rápido do que ontem, mais que a última corrida. Que o último tempo. Que o último recorde.
  Pensou que se tomasse doping, sendo o mais veloz do mundo, poderia alcançar resultados que durariam por décadas. Sem perceber já estava convencido de seu próximo passo.
  Entrou na sala apertada cheia de repórteres. Era o gabinete do comitê olímpico, e seria a última vez em sua vida que veria aquela sala.
  O mesmo lugar em que antes foi fotografado junto a prefeitos e ministros de esportes para receber medalhas.
  Tinha em seu peito todas as que ganhara em sua vida. Daria pra fazer uma armadura com tanto metal.
  Ao chegar até a mesa do diretor, tirou as medalhas do pescoço. E virando-se para os repórteres vociferou:
  -Presei muito essas medalhas por toda minha vida, mas elas foram apenas frutos secundários do que eu buscava. Igualmente, celebrei e comemorei cada vitória em competições, mas também nunca corri pensando em vencer o que ou quem quer que fosse,
senão o meu próprio tempo anterior. Minha suspensão por doping é justa, mesmo sem saber eu tomei tal substância. E por isso estabeleci uma marca que será minha melhor até ser quebrada. Portanto, tenho um novo objetivo, ser novamente mais rápido. Agora não mais importando por que meios. Se o doping me tornou mais rápido acidentalmente, agora ele assim me fará intencionalmente, pois me submeterei a qualquer doping que me faça mais veloz! 
  E em seguida deixou a sala.
  As manchetes do jornal, no dia seguinte, mostravam as fotos do ídolo do esporte daquela cidade tirando suas medalhas, com a manchete:
  'Corredor assume doping'
  "-quero ser mais rápido!"
  Ao acordar deparou com um estranho ao lado de sua cama.
  -Bom dia. Disse o homem.
  -Quem é você?
  -No momento eu sou seu futuro.
  -como assim?
  -Sou o único treinador desse país que treina dopados.
  -Se quer mesmo ter resultados com doping sou a pessoa pra te treinar.
  -Como assim? Por que?
  -Porque sou técnico, ex corredor e principalmente por que sou farmacêutico.
  E com essa frase os dois caíram na gargalhada. Enquanto apertavam as mãos firmando o acordo.
  Não pôde evitar de pensar em meio de toda aquela alegria, que quando se vende a alma,
realmente, tudo que você quer a aparece, como em todas as lenda que ouviu desde a sua infância, sobre seus próprios ídolos. Qual seria o preço que pagaria por sua alma?
  Ao sair do banho Coatch, como era chamado o técnico, estava na sala já com sua mala pronta na mão, e do lado a mãe de fast chorava.
  -Que significa isso? Perguntou abraçando a mãe. Meio ainda que chorando, sua mãe lhe  explicou que, por causa da repercussão da notícia, haviam lhe expedido um mandato de prisão por apologia. 
  -Já havia previsto isso, vamos logo , não temos muito tempo.
  Abraçou sua mãe como se nunca mais fosse vê-la e saiu.Mal virou a esquina e ouviu de longe o som da polícia. 
  Já deviam estar na porta de sua casa. Sentiu vergonha por sua mãe ter que mentir a polícia para lhe deixar fugir, ela sempre lhe pediu para dizer a verdade.
  Após muitas horas de calada viagem, chegaram numa fazenda. Ao descer foi seguindo o técnico e contornando a casa. 
  A fazenda era muito bem cuidada. Tinha cavalos num cercado e gado pelo prado. Um pequeno riacho corria ao longe e fazia rodar um moinho, numa daquelas construções que pareciam saídas de um livro de outro tempo.
  Foi então que viu a pista. Linda.
  -Quase profissional , pensou.
  Coatch reparou no brilho de seus olhos. Ao contemplar a pista seu olhar havia mudado completamente. Todos os problemas e reviravoltas daqueles dias simplesmente sumiram de sua cabeça. Estava nitidamente olhando a pista como se fosse seu bem mais precioso. Sua própria vida.
  Correu pela pista do jeito que estava. Como que para saudar uma velha amiga...
  Ao entrar na casa viu Coatch tomando um café com uma senhora um pouco mais nova.
  -Essa é Abgail- disse o técnico- ela é enfermeira e vai ficar encarregada de medir seus sinais e ficar atenta a qualquer emergência.
  -Emergência?
  Você precisa estar ciente que há riscos, as drogas que você vai usar podem fazer muito mal, e se você tiver uma reação inesperada pode até morrer. 
  Fast pensou por um segundo, mas levantou a cabeça e concordou.
  -se eu ficar mais rápido estou pronto até para dar minha vida.
  -Os treinos vão começar todos os dias de manhã bem cedo, antes do sol nascer. Para aproveitar sua produção natural de hormônios, você vai dormir todos os dia as oito e meia da noite.
  -Não há nada pra se fazer por aqui mesmo- respondeu.
  E assim começaram uma rotina de treinos e injeções. Fast sentia dor a maior parte do tempo. Quando não estava correndo, estava malhando com pesos ou recebendo agulhadas. 
Tinha que tirar sangue todos os dias para que a enfermeira o examinasse. Ela também havia trabalhado muito tempo em um laboratório no hospital. Tirava o sangue, levava para o laboratório improvisado na própria fazenda, e voltava com os resultados a tarde. As vezes tirava sangue duas vezes por dia.
  Os resultados ficavam cada vez mais espantosos. O corpo de Fast era uma máquina,
com todos os turbos que eram possíveis a medicina humana, ia batendo o recorde mundial quase que diariamente. E os resultados eram divulgados pela internet.
  Já tinha virado uma lenda mundial e a polícia federal tentava abafar os resultados e  capturá-lo. Mas, ninguém sabia onde ele estava. Coatch havia cuidado muito bem disso. 
  Numa tarde a enfermeira entrou na cozinha muito preocupada. Chamou o técnico e lhe deu o resultado do último exame.O clima ficou fúnebre. Chamou Fast e lhe deu a triste notícia.
  -Seu fígado está com câncer, sinto muito. 
  Fast abaixou a cabeça.
  -Podemos ir para os hospitais , mas sabiamos todo o tempo que este era um dos riscos do doping. Se estiver espalhado como pensamos, por esses exames, não tem como reverter. O que quer fazer?
  Sem pestanejar soltou de pronto a resposta obstinada:
  -Quero correr.
  Incrivelmente parecia que após receber a notícia o corpo de Fast simplesmente se fortaleceu. Passou a correr naquela semana mais que em todas as outras. E o recorde a ficar cada vez mais baixo. Centésimo por centésimo de segundo. Parecia que ele queria se despedir com velocidade do mundo.
  Finalmente a polícia havia descoberto onde estava.
  Enquanto corria sua última jarda, ele via novamente a pista trêmula, sentia a tensão que agora estourava seus músculos.
  As sirenes ao longe , denunciavam a aproximação dos policiais.
  Ao cruzar a linha e ter seu tempo marcado, mais um recorde caía, mas fast também.
  A enfermeira correu em sua direção, e o técnico agora o segurava em seus braços quase desfalecido.
  Sua vista turva se fixou uma última vez no cronómetro no pescoço de Coatch,
confirmando para si mesmo o recorde quebrado.
  Sorriu.
  -Divulgue o resultado, disse com muito esforço.
   Mas esvaziando o sorriso, enquanto dava seu último suspiro, olhou para o técnico e fez a pergunta que para sempre acompanharia sua história, onde quer que fosse contada:
   -será que valeu a pena?
                                                     FIM

sábado, 23 de janeiro de 2010

A raça dhualmana


 Havia num mundo longínquo, uma raça de homens muito peculiar.
 Eles tinham mãos diferentes com unhas saindo das pontas dos dedos, como para dar firmeza para ambos os lados. Pés para frente e para trás. Os dedos e articulações se também moviam pra ambos os lados, possibilitando o movimento pra trás e para frente. Eles tinham também dois rostos um pra trás e um pra frente. Por isso todas as adaptações do corpo. Não tinham nádegas.e tinham mamilos e orgãos genitais nos dois lados também.
 Na verdade eram como irmãos siameses só que um pra frente e outro pra trás.
 Suas vidas divididas ao meio sem nunca ver a vida do outro rosto acontecer.
 Porque uma vez que estivessem vendo o mundo ir, ao invés de vir, eles dormiam, e se acordassem e o mundo estivesse parado, podiam fazer o que queriam, mas quando estavam em movimento , ou estavam indo na direção do que queriam ou então estavam inconscientes sendo arrastados por aí.
 Por isso a gana com que concluiam rápidamente o que queriam fazer antes de dormir. Não sabiam para onde seriam arrastados ao dormir.
 Os que iam arrastados tinhas então a aparência de pessoas andando para trás e dormindo ao mesmo tempo. Quando eram visto assim eram tidos por pessoas muito estranhas e chamados de sonâmbulos.
 Também havia uma classe de pessoas, na verdade uma minoria, que conseguia manter acordados os dois lados da cabeça e controlar juntas as duas partes do corpo ao mesmo tempo, deixando cada parte fazer o que queria de cada vez, mesmo que isso não agradasse sua outra parte, mesmo que só ficassem meio satisfeitos. Ficavam meio que meditando essa parte da vida .
Entre outras peculiaridades, também tinha o fato de serem atraídos(os divididos) apenas para frente uns dos outros.
 Os seres metades eram de dois tipos: Um lado sempre positivo e o outro sempre negativo. Se moviam sempre na direção de seus pólos afins.
 Na verdade esse era o segredo de sua paz , nunca encontravam discórdias, estavam sempre entre pessoas muito felizes com sua felicidade ou muito tristes com sua tristeza.
 Como nunca viam ninguém diferente de si em conceitos e comportamentos, nunca tentavam convencer aquelas pessoas, tão diferentes de si, a ser como eles. 
 Como sempre iam naturalmente na direção dos seus iguais, mesmo as roupas eram muito estranhas para ambos os lados, porque cada lado fazia sua parte da roupa como queria, sem se importar com o lado que não viam ,senão dormindo e andando de costas ou conversando entre si.
 Uma coisa que acontecia que também raramente acontecia, é de alguém forçar a polaridade e virar para o outro lado interrompendo uma conversa do lado estranho a si. A quebra da polaridade gerava um tremendo mal estar para ambos e para quem estivesse conversando com o outroeu, era assim que eram chamavam aos que não reconheciam, outroeus. E também um desmaio instantâneo dos dois bidivíduos, por causa do shoque de ver um outroeu tão de perto, tanto a aparência quanto a fisionomia era-lhes diferentes. Como as máscaras do teatro , de comédia e tragédia.
Os outroeus, para a maioria, era uma raça diferente dos outronós( que era como se chamavam entre si), que se vestia mal e se comportava de uma meneira muito estranha. E ainda por cima eram sonâmbulos. os outronós não, raramente eram vistos assim...
Mas para aqueles que haviam conciliado as partes eram todos seus irmãos Cumprimentavam a todos e eram cumprimentados de volta normalmente apenas pela face que fosse igual a que eles usavam naquele momento. Viviam ouvindo as alegrias dos alegres e a tristeza dos tristes outroeus das duas faces, pois a maioria nem sabia que tinha alguém conversando um assunto tão estranho, para elas, enquanto estavam dormindo.
 Como os outroeus se uniam aos  seus outronós para ser a minoria deste mundo tão dual?
 Faziam um ritual muito estranho no qual conversavam com a imagem que vissem nas suas costas através de espelhos.
 Era para eles pavoroso, pois eram ensinados desde crianças a nunca tentar acordar os sonâmbulos, e também nunca deviam olhar para trás de suas orelhas . A maioria tinha muito medo de desrespeitar as leis orgânicas.
 Eles então tinham que montar uma instalação de espelhos e ver o reflexo, formando triângulos com o próprio ente, e assim começar um diálogo. No inicio não importa qual dos dois estivesse acordado o outro estaria dormindo, e só depois de muito tempo começaria então, sem saber, a acordar um sonâmbulo.
 No começo achavam que o que aparecia no espelho era um fantasma. Que eles estavam invocando no espelho. E até haviam alguns que afirmariam isso por longo tempo .
 Sendo chamados pelos outronós de espíritas ou médiuns( achavam que os outroeus eram mortos, fantasmas que falavam, não podiam ser vistos cara a cara)
 Estes realizavam feitos grandiosos no seu espiritismo, pois o outroeu fantasma, que estava sendo ajudado pelo médium, tinha poderes que eram as capacidades geradas pelo modo de viver dos outroeus.
 É claro que para o outronós ele também tinha habilidades que o outroeu não tinha, e que eram, igualmente para ele a ajuda que dava ao outroeu. Se o outroeus fossem muito risonhos (os outronós eram tristes), eles tinham que torná-lo mais realista. Se fossem muito tristes(os outronós eram felizes) então deviam animá-los com danças e coisas felizes.
Mas quando tinham pleno sucesso na prática de acordar e aceitar o outroeu como uma parte do outronós,
 é que ficava lindo .Eram conhecidos então como figuras muito estranhas, que falavam com sonâmbulos e cumprimentavam os outroeus na rua e ainda eram as vezes cumprimentados de volta .
Tinham também roupas coerentes dos dois lados(como sua personalidade), mas só eles percebiam isso.
 Alguns escondiam que eram assim e eram chamados de ocultistas, porque ninguém, senão eles mesmos, sabia o que lhes sucedia.
 Outros viviam vidas paradoxais falando publicamente de coisas que os outros não entenderiam.
 Quando não tinham sucesso eram chamados de loucos ,mas quando tinham eram chamados de magos.
 Esses últimos eram aqueles que além de aceitarem que eram outroeus ou outronós , conseguiam se aceitar como ambos, e viver entre eles, outroeus e outronós, seu próprio povo e raça de maneira equilibrada.
 Muito raros...


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

o maior orgão(1, a pele)

 Dizem que a pele é o maior orgão do corpo humano,
pra mim depende do ponto de vista...




 A cozinha estava uma bagunça, Panelas sujas se amontonado e o cheiro do mofo dos restos de comida, que tinham no mínimo duas semanas ali. Baratas por companhia e zumbido de moscas como música.
 Otávio era a imagem da depressão, barba crescendo e olhar perdido no horizonte de azulejo na parede. Estava assim a alguns dias.
 Virou o último gole daquela garrafa que fora sua companheira de derrota toda aquela noite e Caminhou para o banheiro pelo corredor do apartamento, que tinha roupas sujas pelo chão e manchas de bebida, que teriam caído numa dessas idas e vindas bêbado da sala pro quarto, só para dormir ou ver tv.
 Ao chegar à pia, abriu o armário de espelho e viu a fuga, um frasco de calmante fortissímo.Com o tanto de alcool que tava no sangue ia morrer dormindo.
 Encheu a mão de comprimidos e fechou a porta do armário.
 Foi quando viu no espelho seu próprio reflexo. Estava sem camisa e tinha a pele muito branca,com poucas manchas maiores, e quase sem sardas tbm...
 Tinha agora um olhar que se assemelharia, num desenho, a uma lãmpada acesa sobre a cabeça.
 Jogou os comprimidos na pia e foi para a cozinha.
 O telefone tocou.Era Patrícia,seu amor platônico.
 Platõnico porque Otávio era muito exigente. E não com os outros mas consigo mesmo. Achava que não era bom o bastante para ela.E no crítério que formulou pra isso tinha toda a razão.
 Patrícia era riquissíma e ele ainda humilde.ela era bem sucedida em sua carreira e ele, bem,não estava em depressão atôa...
 -Oi? Otavio?
 -Oi paty.
 - Cara tõ tentando falar com você faz dias!!!
 conitinua...


o maior orgão(2, o cérebro)


 -Tô em casa. Tava meio perdido mas já me encontrei...

 -Como assim?
  -Olha, eu vou precisar de um tempo para me concentrar numa idéia. Não posso dizer nada agora, mas recebi seu convite no mensageiro instantâneo.Tentarei te manter informada por ele.
 -Mas eu sou sua amiga! Otávio!
 Desligou.
 Seu olhar permanecia estranho.
 Caminhou a té a cozinha e foi direto para a geladeira.
 Normalmente parava olhando para dentro dela para pensar, mas dessa vez, começou a tirar todo o lixo que se acumulava ali.
 Tinha muita comida estragada. E no meio. Um pudim intacto.  
 Era o pudim da Vovizinha.Nome que deu a sua vizinha que volta e meia aparecia sorrindo, com algum doce nas mãos. Dizendo que ele estava magro, como se fosse sua vó.
 As vezes ele comia , pois eram deliciosos, mas as vezes a depressão o deixava sem fome. O estranho é que o pudim da Vóv nunca estragava.
 Havia lido, em algum lugar da Internet, que havia um tipo de configuração energética , que dependendo da forma como eram postos os ferros de um prédio, e sua posição em relação a linhas elétromagnéticas da terra, fazia com que houvesse uma mais rápida putrefacção de alimentos.
 Tinha sido recomendado a ler tal artigo por um morador antigo do prédio, assim que se mudou para ali, fazia poucos anos.
 O prédio todo era meio que um surto de esoterite. Com imagens e baguás por todas as portas que via.
 Otávio era cético não acreditava em nada disso.
 Mesmo assim gastava mais com comida que todos os seus vizinhos. E por isso era chamado carinhosamente, pelos amigos que fizera no prédio, de Mister Mercado, por viver carregando compras.
 Pôs o pudim da Vóv num lugar seguro , pra comer depois. E fez uma faxina geral na casa, começando pela geladeira.
 Após terminada a limpezacomeu com gosto, o pudim da Vóv. Normalmente, teria ido dormir pra no outro dia começar seu sofrimento diário no trabalho. Mas não, pegou o pouco de comida boa que restava no armário, pois ali então tudo estragava a jato. E comeu como se não tivesse comido nada antes. 
 Sentindo então a letargia da saciedade, foi dormir.
  No dia seguinte, acordou sem despertador e não foi trabalhar, começou a rotina de muitos depressivos e compulsivos por comida. Chamou o comida delivery pela Internet. Gastou todo o dinheiro que tinha ,não estava pensando em ir a lugar nenhum. Encheu o armário de comida ,depois de ganhar um "bom dia mr. mercado" do vizinho. E só pra garantir, dessa vez pôs o tal do baguá, que ganhara de presente, de um dos vizinhos na porta.
 E comia, via TV, olhava a net, dormia, comia de novo.
 Estranhamente começou a ver sites de tatuagem. De direito do trabalho. De feng shoi. E comer, e ver TV, e dormir.
 Acordava no meio da noite, para furtar a si mesmo, assaltando a geladeira e ver TV, navegar na net.
 Sua barba crescendo junto com seu cabelo, dava um tom cada vez mais insano aquele olhar.
 Parou de atender telefonemas e mesmo amigos na net só via agora de vez em quando e sem CAM. Só ia engordando e se enchendo de informações, e os dias iam assim passando.
 Pela  mesma internet, viu na página de departamento pessoal do seu trabalho que fora demitido.
 Vestiu uma roupa, como todas agora, muito apertada e foi a um advogado que pesquisara no seu passatempo preferido. Era um famoso advogado trabalhista da cidade.
 Isso nos leva ao emprego de Otávio.
 Já trabalhava naquela firma á quase dez anos, apesar da pouca idade . Entrou como estágiario.
 A firma era de consultoria e aquisições de imóveis.
 Foi quando conheceu Patrícia.Ela era um sonho. Seu maior incentivo na confusa carreira. Tinha olhos inigualáveis. Poderia ficar horas fitando-os, se não abaixasse seu olhar toda vez que ela lhe direcionava o seu. Ficava então imaginando que ela estaria olhando suas roupas, mais humildes. Ou seus óculos remendados. Corava.
 Entraram juntos no estágio, mas ela era filha do patrão. Enquanto a grana do estágio o ajudava a pagar as contas, para ela pagava o último vestido da semana.Trabalhava para ter uma vida útil e não para viver. Simplesmente não precisaria trabalhar se quisesse. Mas que bom que queria. E era espirituosa, engraçada, inteligente, perfeita.
 Por ficar pensando tanto em sua presença, não conseguia ouvir tudo que ela dizia, e assim, ficava cada vez mais intimidado por aquela magnífica presença. Por isso, vivia se distanciando dela.
 Por causa de uma formação social tão cética quanto religiosa, o pai professor de biologia e a mãe professora de catecismo. Não acreditava em grandes reviravoltas da vida. Muito menos em amor entre pessoas de classes sociais diversas. Paty nem via tais classes entre eles, acreditava no potencial de Otávio.
 Os primeiros anos foram muito bons. Era elogiado pelos chefes e sempre tinha bons resultados nas tarefas do dia a dia. Foi quando terminou seu estágio que começou seu tormento.
 Conseguiu a vaga, mas junto veio o portador do seu suplício.
 Marcos era um pouco mais velho. Não tinha tanta formação como Otávio,mas era filho de um amigo pessoal do patrão e agora, seria seu chefe. Aquele que decidiria se ele ficava ou saia da empresa.
 Marcos além de estudo, também não tinha muito talento, e ainda menos tato.Era um cavalo. Todos tinham medo dele quando estava de mau humor. Otávio era seu alvo preferido. Com piadinhas e gritos, fazia-o  sentir-se um saco de pancadas psicológico. Quando viu que Otávio era competente, começou a explorá-lo.
 No começo pedindo, como favor, que ele fizesse alguns dos seus afazeres. Prometendo que falaria dele na frente do patrão, pois era da casa. Mas só falava de si mesmo. Depois, com a maior cara de pau, já considerava função do pobre fazer seu trabalho.
 A cada dia Otávio o via com mais tempo livre para ficar dando cantadinhas em Paty. De quem por elos de família era amigo. Enquanto ele entrava num redemoinho para cumprir a suas funções e as do chefe.
 Um dia, não conseguiu cumprir nem seu prazo, nem o do chefe, para uma importante apresentação.
 Este que nunca falava dele. Neste dia lhe deu honras públicas pelo erro. E ainda por cima,
após isso, teve que escutar o sermão do chefe ''cheio de razão'' em sua sala.
 -Você me ferrou! Se fizer isso de novo, vai perder esse emprego porcaria que tem. E dizendo isso deu-lhe um pescotapa.
 Ele, que estava encolhido e com a cabisbaixo na cadeira, ao levantar a cabeça viu que as persianas da sala do chefe estavam levantadas. Todos viram a cena. Ouviram o tapa. Viram como Otávio saiu morto daquela sala e se sentou no seu box, de onde só se levantou as cinco em ponto para nunca mais ser visto ali.
 Ia pra casa se matar.
 Ao acabar de ouvir a explanação do advogado, que mais parecia um recitador de cordéis de tanta eloquência, O juiz fez o Marcos chorar na audiência.
 Otávio foi indenizado regiamente pelos danos morais.Marcos perdeu o emprego, mas continuou rico, o berço de ouro lhe serviu de seguro à incompetência.
 Otávio pegou dois bolões de dinheiro e foi pra casa. Parecia que ia ficar satisfeito, mas não.
  continua...






o maior orgão(3, o coração)

 Foi para casa e continuou comendo. Na verdade sua voracidade até cresceu. 
 Não atendia mais o mensageiro instantâneo, nem para falar com Paty. Ficava pesquisando a Internet e comendo.
 As vezes ria sozinho. Ria pra TV. Ria pro computador.
 Até que um dia sua balança do banheiro estourou.
 Vestiu então um robe, que era a única coisa que ainda lhe servia, estava enorme. Passou a mão num dos bolos de dinheiro, e foi ao melhor tatuador da cidade. Ficou ali por horas combinando o preço e desenhos de tatuagens, enquanto mostrava as pernas, braços e costas, muito brancas, pro tatuador. Por fim, passou o bolo de dinheiro pro tatuador,

que entrou mais uma vez na loja , e saiu com ele para ir de táxi para sua casa,

levando um monte de equipamentos de tatuagem. 
 Ficaram ali por dias, mais de uma semana.
 Agora sim o visual estava completo .
 Deitado, com dores por causa das tatuagens, Otávio era a imagem da loucura planejada, totalmente realizada. Tinha, apesar da dor, um sorriso de quem conseguiu o que queria.

 -Agora é descida...Deixou escapar.

 Sangue escorria das frescas tatuagens, tingindo de vermelho seus lençóis e sua cama.

 Nos próximos dias mudaria de atitude. Ainda com o brilho nos olhos começou a mudar seus hábitos. Começou a fazer dieta. Isso mesmo, dieta.
 Fazia exercícios e continuava na Internet, Mas agora num ritmo frenético. Discutia e gesticulava com a CAM ligada. Era o único momento em que ligava a CAM e ficava sem o robe, só de sunga. Exibindo seu enorme corpo cheio de informações. Volta e meia soltava um grito de alegria.
 Começou a se comunicar com Paty de novo. A medida que criava intimidade com sua alma. Olhava pra sua foto no messenger. Uma foto em que estava, como que olhando diretamente para o fotógrafo, com aqueles olhos inigualáveis.

 Olhando para aquela foto, aprendeu a não abaixar os olhos, ao trocar olhares com ela. Para quando estivessem, enfim, frente a frente. 
 Numa tarde, avisando apenas para ela o que faria, pegou o outro maço de dinheiro, e foi ao cirurgião mais bem conceituado da cidade.

 Depois de horas vendo num quadro, como colocariam um grampo no seu estômago,

para que ele emagrecesse rápida e confortavelmente.

 Passou o maço pro cirurgião e se internou na mesma tarde.

 Após grampeado, medicado e enfaixado. Voltou para casa.

 E agora dia após dia, se adaptava a um estômago diminuto. Só líquidos e porções mínimas de comida sólida bem mastigada. 
 Conforme ia emagrecendo, sua pele se enrugava e suas tatuagens encolhiam,

perdendo a forma, e mesmo o sentido de beleza que exprimiam, como bexigas murchas de aniversário, lembrando os melancólicos fins de festa infantil. Onde as crianças vão embora felizes, dormindo no colo dos pais cansados.
 Otávio já não ligava a CAM e nem discutia por suas agora disformes tatuagens. Apenas dava relatórios de sua saúde aos que importavam.
 Depois de emagrecer de tudo, voltou então ao mesmo cirurgião.

 Depois de horas ouvindo como seria retirado o excesso de pele, preservando sua aparência, assinou um recibo final e se internou pela última vez naquela clínica.

 Na sala de cirurgia o médico cortava , esticava e costurava a pele de Otávio,
e jogava o excesso num balde cheio de líquido, como se fosse lixo.

 Os aparelhos registraram um desequilíbrio dos batimentos, pressão sanguínea caiu.Começava um movimento estranho naquela sala. Otávio estava morrendo.

 Patrícia rezava em seu oratório. Uma lágrima escorreu de sua face, enquanto murmurava o nome do amado.

 Passados alguns dias do evento sinistro, Paty vestia um vestido preto. Em sua mesa de cabeceira, um convite preto de letras douradas.

 Ao entrar no teatro decorado, viu como seu amado virtual era conhecido. Haviam pessoas tatuadas e vestidas estranhamente.

 Também dava pra ver que eram riquíssimas, pelas jóias que usavam. Uma mulher com feições orientais e vários seguranças, se abanava com um leque, mostrando no anel,
 um rubi em formato de coração, do tamanho de um olho humano em sua mão.
 Havia artistas internacionais e cineastas também.
 No palco um púlpito.
 Ao soar de um sinal, todos fizeram um silêncio solene.
Ao abrir das cortinas, surge Otávio!
 Magro, barbeado, mas com os cabelos compridos. O que mostrava, que apesar de ser a mesma pessoa, era agora uma pessoa totalmente diferente. Vestia um smooking
 Atrás de si, oito telas cobertas, com elegantes mulheres ao lado de cada uma.
 -Senhores, a coleção o maior órgão do homem!
 Ao dizer isso as mulheres desnudaram as oito telas.
 Eram as tatuagens de Otávio. Totalmente preservadas e esticadas. Gigantescas e imponentes.
 -Os lances começarão em quinhentos mil dólares.
 Deu a primeira martelada e entregou o martelo ao leiloeiro.
 O auditório ficou como uma bolsa de valores , os valores subindo, enquanto as pessoas se desesperavam para adquirir as telas.
 O tatuador ria sem parar daquela sociedade excêntrica, de como a pele tinha mais valor que pensava, e também seu trabalho.
 Do fim do teatro. Vestindo também um smooking preto, ficava a cada grito mais famoso.
 Já em casa com sua bela Paty nos braços, Otávio tomava uma taça de cognaque ao fogo da lareira digital, de seu recem  decorado apartamento.
 Olhavam para a única tela que não tinha vendido. Em que Paty parecia olhar diretamente para o tatuador, com aqueles olhos inconfundíveis. Enquanto passava os olhos em um dos contratos de estúdios de cinema, para filmar sua biografia.
 Tinha ficado quase-morto e passado por uma experiência paranormal. O que lhe rendera convites extras para a TV para falar disso também.
 Ficou conhecido no mundo inteiro.
 Paty foi para o quarto.
 E Otávio, antes de segui-la, foi ao banheiro. Escovou os dentes com a porta do armário aberta. Pensava, olhando para a água que escorria, no real sentido do nome de sua coleção.
 Que a pele pesava mais, mas o cérebro é que executava os planos.
 Que o cérebro pesava mais, mas era o coração que dava o motivo.
 O poder de um amor verdadeiro.
 Paty sempre fora sua musa.
 Do momento em que decidido a se matar, recebeu seu convite para o mensageiro instantâneo, com aquela foto divina em exibição, ao momento em que desistiu disso para homenagear seu amor, com uma tatuagem de seu rosto sobre seu peito,e dali ao momento em que decidiu engordar para que ela fosse maior, e ao momento que por esperar para uma conversa on, viu que uma tatuagem tinha sido vendida por cem mil dólares no exterior, ao momento em que arquitetou todo o plano.
 Sempre fora seu coração apaixonado que lhe dera a força,para aguentar do fastio à fome, da dor ao prazer.
 O coração é o maior órgão.
 Digam os cientistas o que quiserem.
 Fechou a porta espelhada do banheiro e olhou para sua imagem no espelho e conferiu as finas cicatrizes que logo sumiriam.
 E lembrando-se da amada à espera no quarto, se sentiu muito feliz com sua vida.
 E sorriu para si mesmo no espelho.
 Mas de repente seu rosto assumiu uma expressão estranha. Tinha novamente um olhar que se assemelharia, num desenho animado, á uma lâmpada acesa sobre a cabeça...
                                                          FIM