quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nietzsche.

Depois que deus está morto, todos querem ser o super-homem....

segunda-feira, 12 de maio de 2014

drogas

as deles são geralmente piores, e as nossas necessárias...

sexta-feira, 9 de maio de 2014

CONTRA TESTES EM ANIMAIS

Somos todos macacos, mas uns mais macacos que outros.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mover a Grande Pá.

  Pensar não é como exercitar uma coisa aprendida.
Tal exercício é semelhante a usar uma pazinha de areia.
  Pensar já é como enfiar a pazinha na areia,
Sentir que ela se encaixou em algo maior,
Mas que por um motivo desconhecido
Você consegue mover também com facilidade.
E atendendo o desejo mais puro,
Você puxa a Grande Pá que se tornou seu brinquedo,
Espalhando areia pra todo lado e gritando! E rindo!
 Mas em poucos instantes,
Você olha de novo para o chão e vê o buraco,
Os outros brinquedos e também seus amigos
Despedaçados, quebrados ou feridos.
Os pais mortos ou aterrorizados.
 Quanta destruição.
 Quanta dor.
 E você quase sempre depois disso irá ficar só.
Até que cheguem outros com crianças e brinquedos.
E que você olhará de longe com sua Pá na mão,
 As outras crianças enfiarem pazinhas
 E tirarem as pazinhas do chão
Sem nada acontecer a não ser a velha e boa diversão infantil.
 E você lá, em silêncio, sem avisar que a destruição está nas mãos das crianças, embaixo dos próprios pés. ..
 Esperando que alguma algum dia consiga encontrar o encaixe.
 Alguém que faça soar o clic!
Pra que você tenha com quem brincar.
 É necessário que pensem
Mesmo sendo fato de  que pensar destrói.
 Pensar dói.
 E de muitas maneiras.
 Mas é necessário que pensem
Para que você não fique só
A mover a Grande Pá.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A pergunta é:

Você quer se entender,
Ou quer que te expliquem?

sábado, 3 de maio de 2014

Cagada Magistral

O que as pessoas não entendem é que acertar no ângulo, bem lá onde a coruja dorme,
Sempre, impreterivelmente, inevitavelmente, inesperadamente, indefensavelmente, incalculavelmente(antes de feito) terá sido uma cagada.
 Uma aplicação de forças, intensões e possibilidades impensáveis, gerando feitos inimagináveis, ainda que ardentemente desejados, e emocionantemente admiráveis, eternamente.
 Mas acidental e de difícil repetição, a não ser para o realizador da façanha, às vezes mesmo para este.
 Talvez o Universo em si seja uma Cagada Magistral.
 E viva!!!
(Viva a Cagada Magistral!!!)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

São Gonça.

O que Nelson Rodrigues não pensou acontece em São Gonçalo.

Lá fora é melhor.

Olhou para o redor e sentiu o puro desespero. O cheiro de carne queimada, pólvora e óleo quase o cegavam. A sua frente os restos da menina nativa semi-despedaçada. Arrastou-se para mais perto engasgando na constatação da sua morte. Cuidara dela por quase sete semanas, e agora perdia a batalha para uma morte simplesmente evitável. Quem bombardearia um hospital de refugiados? Fechou os olhos com força e viu tudo se iluminar, escurecer e desaparecer.
 No silêncio escutava vozes:'' Ele está desperto". "pode nos ver".
 Atordoado ele olhava as faces mascaradas por trás do vidro. Estava nu, entubado, inerte e flutuando em um líquido translúcido. As pessoas do lado de fora do vidro pareciam cientistas ou médicos. Um deles tinha uma espécie de tablet.
 -Você precisa ficar calmo, seu tempo ainda não está nem na metade, ainda faltam mais de oito horas pra acabar seu turno.
 Aos poucos começou a lembra-se de tudo.
O ano é 3015, o planeta vive uma longa escassez de água e comida desde a estagnação do crescimento vegetativo e a descoberta do inibidor de desgaste corporal.
A população é de 10 bilhões de habitantes fixos, mas acontecem fugas e invasões. O governo é democrático e direto. As pessoas governam tudo em conjunto de onde estiverem no mundo inteiro. A economia tem agora outro sentido, de equilíbrio e aproveitamento máximo de recursos. As diferenças tecnológicas entre habitantes são ínfimas. Os males que permanecem são psicológicos , psicossomáticos , comportamentais, e a escassez de recursos.
 Para isso criou-se a grande a grande comunidade terapêutica. Onde os indivíduos não mais ficavam presos por anos, mas faziam pequenas internações terapêuticas de no máximo três dias.
 Como um terço da população do planeta tem problemas com um ou outro mal da época se tornou vital e altamente incentivada a participação das pessoas nos programas de saúde.
 Também é nos programas de saúde que surgem e são catalogadas a  maioria das grandes idéias , possibilitando um elevadíssimo aumento de patentes públicas e inventos consequentes.
 Lembrou-se de o quanto a realidade do século XXXI é individual, impessoal, calma. Não há mais guerras desde o fim do governo tirano e a implementação da Comunidade Virtual para o Saneamento Planetário Constante. A separação máxima das pessoas, restringindo-as no máximo a convívios familiares(agora com conotação totalmente diferente, chamado de círculo íntimo) e sociais com círculos pequenos, ao mesmo tempo que uma forte identidade coletiva de responsabilidade, diminuiu os prazeres coletivos, mas aumentou para importância máxima a harmonia individual e também do círculo íntimo. Se a harmonia era quebrada ou sentida por qualquer parte procuravam o saneamento. Dois ou três dias e voltavam com novas esperanças e as vezes descobertas.
 -Descobri a cura para o Ébola!!! (disse através da máquina colada em sua testa). -Vivaaaaa!!! -Todos comemoraram. O Ébola havia sido considerado extinto, mas sem cura, através o sacrifício de muitas vidas havia muitos anos, os últimos a morrer se confinaram numa ilha e esperaram a morte para que a ilha fosse higienizada e o vírus desaparecesse do planeta. Mas sua informação era processada na mente coletiva da comunidade terapêutica. Encontrar a cura era fundamental para anular a possibilidade de o vírus ser novamente descoberto em alguma falha. Todas as possibilidades conhecidas eram colocadas assim na mente coletiva.
 -Seus sinais estão em ordem , deseja abortar a terapia ?
 - Negativo.- Havia se entristecido com uma de suas filhas. Coisa hoje considerada sem valor, mas ali, de máxima importância. As diferenças entre jovens e adultos são poucas e é difícil evoluir nesse sentido. Os filhos, ou reposições(como são chamados os que repõem fugas, e excepcionais mortes por acidentes) ficam toda infância  e adolescência restritos ao estudo, são monitorados 24 hs por dia e não ficam nunca com os genitores, pois são dados aos que obtém melhores resultados no processo e é uma grande honra. É expressamente proibido o processo de reprodução. As pessoas são estéreis e o sexo é livre e plenamente regulamentado. Parafilias, e distúrbios são obviamente tratados na comunidade e apenas quando atrapalham a vida nos pequenos círculos.- Mais oito horas e poderei ter um abraço e uma conversa calma com minha reposição!
-Entendido! Reconectando mente individual na mente coletiva em 3,2, 1.
 Tentava se concentrar em resolver os problemas. Sabia que iria abrir os olhos e o tempo não teria passado. Teria agora de divulgar a cura do Ébola e denunciar o genocídio de um campo de refugiados. Correr contra o tempo e a guerra. Com fome. Sede. Ferido e com os sentimentos em frangalhos pela morte da menina. Quem seria aquela menina fora da mente coletiva???
 Acalmou-se e lembrou-se da alegria do seu presente real. De que vive em um mundo melhor. Que ainda resolve seus problemas com o passado e o presente dentro de uma comunidade terapêutica com infernos éticos e físicos.
 Mas num agora melhor.
 Lá fora é melhor...
 Abriu os olhos e percebeu que se continuasse chorando a menina, perderia a chance de salvar todas as outras pessoas. Tinha sempre na mente um pesadelo antigo, onde todos tiveram que ser mortos pra acabar com o vírus. Vivia para não deixar aquele pesadelo se realizar.
 Coletou o sangue da menina em dois béqueres, lacrou, limpou o suor avermelhado dos olhos e começou a correr...

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Tamojunto.

Ela olhou fixamente para mim e deu um sorriso. Forçado, mas sorriso. Dentes, arco, quase-covinhas e até aquele suspirinho de antes de falar.
-Oi, tudo bom? Meu nome é Ana e eu já vi você aqui umas duas vezes.-humpf-
O ônibus deu  um pequeno tranco pra voltar a andar. Alguém passou roçando o lado nela. Aquela dancinha coletiva do ônibus na mesma direção e volta. Olhou pra cima, mas não xingou, estava acostumada. Melhor isso do que ir em pé.
Tinha grandes olhos verdes com os quais parecia querer sugar a vida pra dentro da cabeça, mas já mostrava o fastio de ter devorado bons pedaços de uma vez, traduzido em olheiras pequenas mas já visíveis mesmo abaixo da maquilagem. O batom demonstrava a mesma coragem desbotada.
 Aliás, desbotado era o grito. Não, desbotando. Bem no começo. Aquela falsa esperança. Cedo.  Querendo ainda se agarrar a uma possibilidade de mudança. Aceleração, direção ,movimento. E como resposta, o tédio.
 O tédio recente é uma fase estranha nisso, não vê nada acontecer, mas ainda pensa que vem aí. Cruza e descruza as pernas. Não há o que fazer, mas não quer dormir e se deixar perder a compostura. Babar na almofada do sofá, depois de escorregar até quase deitar, deslizando como uma lesma.
 E o caderno. Todo rabiscado. Com uma frase de Nietzsche... ''morreu de sua compaixão pelos homens". Coisas que não era preciso ler duas vezes e se tornava bagagem pra toda vida. Peso útil, mas peso.
 Quando desceu os olhos pra retornar a frase, não pode.
 -Tudo bom sim, Ana. Mas a gente não tem mais tempo de conversar. Já estou descendo. E também não precisamos tanto assunto só porque estamos juntos nesse movimento, se é que se pode chamar assim.
 -Você já percebeu que as coisas demoram a mudar. Parecendo que não mudam. Até que se veja que mudaram mesmo, e muito, e muito rápido. Apenas não percebemos, pois estávamos imersos na mudança, mudando no mesmo ritmo imóvel. Tentando decifrar a entropia, nos deixamos sentir demais os movimentos do derredor. Indo rápido demais nas quedas, e forçando tudo nos acessos.
 - Você está procurando companhia depois de ter escolhido uma planície vazia. Desprezou a órbita comum e escolheu uma alongada. preferiu encontros fantásticos, mas raros. E agora vai se tornando um cometa sem brilho, longe demais do sol. Como um imenso bólido de pedra, metal e gelo. Vagando ao aparente esmo do lado escuro, perto da cerca de trás, do quintal da própria casa.
-E você vai brilhar de novo. Mas deve se lembrar desse ônibus. Desses pequenos trancos. Da dança coletiva dos escravos solitários da direção única. Até que você se sinta tão bem na cerca escura, quanto era na infância, ao brincar na varanda ensolarada.
 -Porque não temos como perceber o movimento, até que seja tarde demais. E não temos como ter de volta a sensação da aceleração ao descobrir que mesmo aquela fazia parte desta. Era apenas mais uma parte. mais uma peça.
-Tenho que ir. Fique bem. E se não voltarmos a nos ver. Se demorar a se mover. Um dia a gente se encontrará de novo de um modo suave. Sem se bater e talvez nem se tocar. Vamos nessa.
Tamojunto.
 Na inércia.
 Desci do ônibus no meu ponto. Aproveitando o solavanco pra alcançar o meio fio. Aqueles passinhos pulados pra equilibrar. Andar de novo entre todo mundo. Fluir.
 Já era.