sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Labirintando

Tiro no escuro.
Com alvo incerto,
Tom inseguro.
Ontem estava perto,
Mas, no apuro,
A maior parte do metal
Não era ouro puro.
Dividido no passado,
Perdido em tantos futuros.
É bem em frente, rente.
Mas, novamente um muro.
Quebramos, então!
(Quem sabe aí, o que procuro)
Aceitação?
Integração?
Ou apenas outro monturo?
E onde leva a discussão?
Só o que não sei, asseguro.
Mas, de pai negro e mãe branca,
Para dois povos já nasci impuro.
Mas, e para os outros ?
Nem existo?
São meus irmãos.
Eu juro.
Então seguindo na rede,
Eu, nem pescador nem peixe,
Continuarei observando.
Encostado na parede.
Olhando através de um furo.
Vendo a multidão dar a volta.
Enquanto se benze.
Em "Credo e Cruz" .
E em "Desconjuro".

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O coração

Sei da vontade que tenho
De viver a minha vida.
No entanto me falta o empenho
Para curar essa ferida.
Ferida, que aberta no peito,
Dói no meio do coração.
Se parar, morro.
Se bater, vai sangue ao chão.
Sim, o coração bate,
Um martelo em estranha mão.
E você não sabe,
É em mim que ele bate. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Só por hoje . Só?

  De vez enquanto me drogo só para ver mais vinte quatro horas.
  E, quando quero me abster, tenho que ficar limpo.
  Só por hoje.
  Mas hoje não acaba nunca,
  Todo dia é hoje.
  Hoje é tempo demais.
  Acho que vou voltar atrás.
  Todos os dias o sol nasce.
  Mas eu só vejo de vez enquanto.
  De vez enquanto eu nem percebo quando vem a alva.
  De repente, o noite novamente vira dia e não me encontro.
  E fujo correndo de novo, antes que tudo fique hediondo.
  Só por hoje.
  Mas hoje não acaba nunca,
  Todo dia é hoje.
  Hoje é tempo demais.
  Quando se quer voltar atrás.

O Recanto do Poeta

   Eu me sentei no Recanto do Poeta.
   Refúgio dos apreciadores do néctar de baco
e dos aromas inebriantes da morte lenta.
   Uma roleta russa, em que um projétil dança
em um tambor de milhares de compartimentos.
   Ao lado da fonte e reservatório de todo o saber humano.
   Sim. O lugar onde uma vez nos escondemos,
como fazem os nossos desde muito tempo.
   E ali aprendemos, ali nos entregamos ao prazer louco,
aos conhecimentos menos nobres, ao frenesi dos sentidos.
   Ali onde ensinam os que sabem e os ignorantes bebem,
nós nem uma coisa nem outra fizemos.
   Nós apenas transgredimos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Wonderland

Here I go
Here I go
Falling through the hole
Down and down and down
to a place under the ground
In every second I lose the sight of sky
Here I go
Here I go
No time to say goodbye

tradução:
Pais das maravilhas
Aqui vou eu
Aqui vou eu
Caindo através do buraco
Para baixo e para baixo e para baixo
Para um lugar embaixo da terra
A cada segundo eu perco a visão do céu
Aqui vou eu
Aqui vou eu
Sem tempo para dizer adeus

Kharma

-Não! Não quero fazer exames! Não quero agulhas! Não, nada de biópsias, vacinas ou remédios! Não! Nããããoooo! -Gritava Arnald, enquanto era arrastado pelos corredores da base militar.
 Estivera desaparecido em missão por quase cinco anos, até que finalmente pousara na Terra, sem nenhuma aviso, como se tivesse simplesmente rompido do além para o tempo espaço, já dentro da atmosfera. Seu pouso foi tranquilo, como inspirava a forma dos para-quedas que retardavam sua trajetória retilínea e vertical rumo ao oceano pacífico. A capsula flutuante foi aberta á normalidade, e o astronauta foi finalmente trazido de volta à base. Tudo como deve ser, com exceção da barba do nosso herói retornado, mas as coisas mudaram logo que ele foi levado a enfermaria do pós retorno. Pois não havia se barbeado e também se recusara a fazer os exames de rotina.  
 Ninguém compreendia seu comportamento, pois ele estava familiarizado com os procedimentos de volta, sabia que era necessário conferir que não trazia nenhuma doença do espaço, pois isso poderia ser o fim de toda a humanidade - uma doença sem cura no planeta. O que teria acontecido na viagem?
O soldado do espaço conseguiu se desvencilhar, e agora corria pelos corredores do hospital da base, nos últimos andares. Repetindo sempre:
-Sem cortes, sem karmas.- enquanto seus olhos claramente viam outra realidade, mais posicionada no passado, talvez.
 Saia dali, com a mente , enquanto dobrava um corredor, atento e determinado a não ser apanhado.
 A nave se direcionava para a anomalia espacial e Arnald viu que não seria possível desviar-se, prendeu a respiração como alguém que mergulha pela primeira vez, e sem ter opção, acelerou rumo a nuvem de energia. Estava tão envolvido com a imagem do buraco negro, que não olhara os instrumentos do painel. Estavam todos loucos e apitando até. Como não ouviu? Como pode colocar em risco toda missão e a sua segurança?~
 O computador de bordo também deveria ter detectado o problema, mas parecia fazer cálculos ininterruptos, como se tivesse sido pego por uma equação que ele mesmo criara ao detectar a anomalia. Caracteres e números sem fim agora inundavam a tela e se refletiam no visor. Dentro do capacete, o suor escorria pelo rosto, mesmo com a refrigeração do traje funcionando. Também percebia-se a tensão das mãos do piloto, sob as grossas luvas que seguravam o manche da nave. Era como navegam com uma jangada feita para calmaria, num rio caudaloso, acidentado e cheio de pedras. Sofria para manter qualquer estabilidade, enquanto que a nave se desgarrava do controle para deslizar, arrastada pelo fluxo de forças espaciais.
 A nave parecia estar sob a influência de uma distorção de realidade. Juntamente com ela, o corpo e a consciência de Arnald se distorcia, se estiava , se contorcia, como que se misturando e se desintegrando um informação pura, muito além das configurações moleculares quase estáticas quando comparadas a tal absurda velocidade.
 Como que do fundo de um funil, feito de gases e luz, a naves se desdistorceu, se recompondo em forma, imagem e funcionalidade. Os aparelhos pararam de apitar. O visor traseiro mostrava a anomalia se afastando, com todas as interrogações que tinha ao aparecer, e mais uma infinidade de novas dúvidas.  O computador ainda fazia cálculos psicodélicos em sua tela individual. Saíram.

Abriu uma porta entrou num armário de faxina e se abaixou. Havia roupas e um par de sapatos, que vestiu de pressa, não se importando para o tamanho diferente do seu, já que era mais largo e maior. Pior se fossem apertados, pensou. Saiu deixando as roupas de internado num canto, mas seu rosto barbudo não seria confundido dentro de um hospital militar.
-Está ali!- disse o cabo, guardião das telas planas, que monitorava as câmeras de segurança.- acabou de entrar na ala de retornados de guerra.
 Por ser um hospital de segurança sanitária, muitos soldados que suspeitava-se que fossem infectados por doenças na guerra estavam ali na base, deitdos temporariamente pelo mesmo motivo que levava a segurança a buscar pelo nosso herói: A possibilidade de que em um retorno para casa , algo viesse junto.
 Percebendo que estavam próximos os soldados, deitou-se numa das camas vazias e cobriu-se. Os soldados passaram pela ala correndo sem vê-lo. Um dos internos o viu deitar, e agindo como um companheiro militar, esperou o "inimigo'' se afastar e arguiu o campanha em voz baixa:
- O que ouve, soldado? - seus olhos eram pura paranóia pós-guerra- você também caiu por fogo amigo?
-Não! -disse o astronauta, sem querer dar muitas explicações.- apenas estou tentando não piorar as coisas para ninguém. - Disse levantando-se e indo em direção ao banheiro. Por sorte, havia um barbeador sobre a pia. Apanhou-o e começou o velho ritual terrestre. Fez espuma com o sabonete e começou a raspar-se. Mas estranhamente parou quando um gota de sangue caiu sobre a espuma. Com  barba feita pela metade, parecia estar num profundo conflito ético por causa daquela gota de sangue. Lavou o rosto e deixou o banheiro.
Ao sair, viu as costas dos soldados que estavam a frente, e voltou silenciosamente pelo corredor que tinha vindo, alcançando as escadas do prédio. subiu correndo , pois sabia que ali era filmado.
-Lá está ele, disse o cabo.- Acabou se subir para o último andar!
O rádio alertava a todos na frequência, e assim, como num video game, eram todos direcionados para o andar apontado, se movendo como um algoritmo que persegue uma informação que lhe escapa.
 Arnaldo entrou num vestiário da guarda, e sem pestanejar colocou um uniforme completo, com capacete e botas. Agora estava menos notório. Esperou trás de uma das portas que passasse um grupo de perseguidores, e se  misturou calado, por trás da máscara de gás militar.

 Ao sair percebeu que não estava mais no mesmo lugar no espaço sideral. As estrelas estavam diferentes. Não eram mais as mesmas constelações. Fez a volta e pensou em retornar para a Terra, pois era o procedimento instintivo. Foi quando tomou um enorme susto. Ao invés de uma viu duas Terras em órbitas muito próximas. Esfregou os olhos para ter certeza de que não era um problema da sua vista, e como os dois planetas continuassem ali, tentou voltar para uma distância segura, temendo o que não conhecia. Aquilo não era a Terra. Melhor ficar distante.
  Mas, subitamente percebeu que já havia sido apanhado pela gravidade do planeta, muito mais forte que a da Terra, e não tinha forças para voltar. Sem alternativas, ainda que aprensivo, alinhou a nave á janela de reentrada, e preparou-se para aterrissar.
 Havia treinado na Terra para a reentrada, por causa da gravidade e do fogo que envolve a cápsula, quando esta entra em contato com a atmosfera. Mas o fogo daquele lugar tinha uma cor diferente, que não conseguia sequer distinguir direito. Uma cor que parecia variar em nuances de seus opostos, como as cores das auroras do seu planeta natal.
 De cima via que o planeta era populoso, pelas casas que se estendiam pelo solo, que havia arquitetura, tecnologia,  e viu que o pouso seria forçado e em área habitada. O que requeria uma pilotagem extremamente precisa. Fez o máximo para desviar-se das casas, girando o eixo central da nave em piruetas horizontais e conseguindo evitar a maioria dos prédios e árvores , mas acabou aterrizando em uma delas.
 Ao abrir a porta da nave, tudo era fumaça e escombros. Olhou rapidamente em volta e viu uma mulher morta pelo impacto, no meio dos escombros e também um homem que se debatia convulsionando. Suas roupas cobriam a maior parte do corpo, então teve que rasgá-las para ver qual seria o trauma, mas não viu nenhum ferimento externo. Aparentemente a roupa protegia a pele do fogo e era térmica, mas não era a prova de choque, já que alguma costela parecia ter se quebrado .  Arrastou-o para fora e percebendo que suas vias aéreas estavam obstruídas , fez-lhe uma traqueostomia, introduzindo um tubo em sua garganta para que ele respirasse. Ouviu o som como de uma ambulância e respirou aliviado. Ao olhar para trás viu o veículo pousando, pois se movia voando baixo próximo ao calçamento. A cor era negra e o símbolo era indecifrável e escrito em laranja , amarelo e vermelho marrom. 
 As portas laterais se abriram e um homem vestindo um uniforme branco e laranja se aproxima dele, vendo-o bem, não perde tempo e passa rapidamente ao nativo do planeta , apontando um aparelho de leitura de sinais, verifica suas condições. Mas estranhamente , ao ver que o homem havia sido salvo , ficou como que enraivecido. Voltou até Arnoldo e algemou-o, usando um aparato que curvava luz ao redor das mãos e pulsos, enquanto dizia algo como um palavrão,  chamou a polícia ou algo parecido pelo rádio. Que ao chegar , não era muito diferente da "ambulância".
 Enquanto era levantado do chão, ainda exausto , o agora preso Arnald ainda pôde ver o tal enfermeiro retirar o tubo da garganta do homem que agonizou por segundos tremendo e  sufocando, e morreu. 
-Espere!- gritou.- Ele estava salvo! podia viver! -Agora era nosso astronauta que estava em fúria! Esperneando e exigindo resposta, mas sendo invariavelmente arrastado pelos oficiais, foi desacordado e colocado na viatura.
- É para o seu bem e o de todos... -Foi o que disse o brutamontes de armadura, antes de levantar voo rumo a detenção.


Perto do soldado da frente, Arnaldo ouvia o rádio e as ordens para pegá-lo, mas sem ferí-lo. Ficou um pouco menos temeroso ao ouvir isso, pois soube que não era considerado uma ameaça.
 -Idiotas inocentes . Pensou. -Me cortar para fazer exames faria tudo isso continuar infinitamente. Tenho que fugir pra alguma comunidade amish, ou harekrishna. Onde diabos se vive sem se ferir nesse mundo, e sem querer se salvar? - Seus pensamentos pareciam não encontrar eco em nenhum lugar da realidade presente. E apesar de consciente. Se sentia como num pesadelo do qual não era possível acordar.
 Dobraram a esquerda no fim do corredor, mas como viu que oficial de dia estava perto do balcão do andar, deu meia volta antes de ser visto. Entrando novamente na porta das escadas. dessa vezz , a que levava ao terraço. Desta vez o cabo não estranhou de imediato um soldado no telhado. Imaginou que o encarregado da operação o havia designado, e não percebeu , voltando ao monitor do corredor , que nosso herói desceu pela escada de incêndio, por três andares, de volta para o prédio, mas com chances de enganar os perseguidores, e talvez conseguir a liberdade.
Entrou pela janela de uma ala que parecia desativada, teria sorte de ter as câmeras desligadas por isso? Cruzou a parede no ângulo cego da câmera mesmo pensando assim. Não queria arriscar. Ou viu os passos do lado de fora, e olhou pela janela de vidro para dentro da parte ativada do hospital. Viu apenas enfermeiras e funcionários de limpeza. Confiando no uniforme, cruzou o corredor.






O planeta era muito parecido com a terra, até onde pode perceber , pois via apenas uma pequena parte pela janela  do veicúlo, já perto da detenção. Apenas a arquitetura era mais baixa e as roupas tinha uma aparência menos formal, o que mostrava que eram mais confortáveis e preocupadas mais com a higiene e a proteção ambiental .
 O clima também era mais ameno, o ar era notavelmente mais puro e havia também menos ruído e mais vegetação, também totalmente diferente do que via na Terra. As plantas de certa forma pareciam estar inseridas na sociedade, assim como os animais que eram dotados de tradutores para comunicação.
 Os veículos deviam ser movidos a algum tipo energia limpa , pois não soltavam fumaça e nem roncavam. Dentro da viatura Arnaldo era a imagem da culpa e da confusão.  Desde o momento que acordou, pensava no porque do enfermeiro matar o sobrevivente do acidente. Seria alguma conspiração?
 Na delegacia, após intermináveis horas de espera , já em isolamento, chegou finalmente sua advogada. Como no nosso planeta, era um ser diferenciado pela roupa e o ar grave dentro dos ambientes oficiais. Andava, olhava e falava com distanciamento profissional e distinção técnica impecável, e ao mesmo tempo, uma empatia ímpar, sendo isso o que destonava de alguns advogados que havia conhecido no planeta anterior.
 Ao entrar dirigiu-se a ele , colocando algo como um tablet sobre a mesa, mas que emitia luz tridimensional, onde lia o relatório da ocorrência:
- Seu caso é muito grave...-Disse ajeitando a meia armação vazia frente aos olhos, como fazem os médicos quando vão diagnosticar o câncer em fase já avançada para o paciente.
-Eu sei,- Disse Arnaldo interrompendo-a, gesticulando com as mãos ligadas  - São dois mortos, mas eu salvei o homem! Ele podia ter sobrevivido, se o enfermeiro não o tivesse matado! Não sou responsável pelas duas mortes!
-Mortos? Enfermeiro?-disse ela com o rosto agora nitidamente confuso, como se ouvisse uma blasfêmia na igreja , ou uma imbecilidade supersticiosa num ambiente acadêmico- Não está sendo julgado por mortes, senhor Arnald, mortes são naturais e ninguém  aqui é julgado por elas. Não há enfermeiros em Karma , as pessoas aceitam e cuidam o melhor possível com a tecnologia difundida das suas doenças. Aquele funcionário era um auxiliar de morte o que em seu planeta seria um preventor de eutanásia e suicídio, bem como de prolongamento de vida ou imortalidade. Você está sendo julgado por salvar o homem, que por sua interferência viveu cerca de vinte minutos a mais, o que alterou a balança do Karma dois graus inteiros em direção ao paradigma eterniano. Nós estamos a mais de dez séculos sem ter nenhum movimento do campo mórfico nessa direção. É uma catástrofe! Uma catástrofe e pode ter consequências sérias para o equilíbrio do nosso sistema biplanetário! - Respirou desabafando, mais para se livrar do fardo que por ter se feito compreender.
 -Meu nome é Virínia e sou sua advogada, á propósito de esclarecimento, mas já vou te adiantando que seu caso é um caso perdido, e que apesar de compreender sua evolução, não nutro simpatia ou instinto de defesa pelo que o senhor fez. É um crime!
-Julgado por salvar?-Agora mais confuso do que antes, deixou o corpo cair para trás, se apoiando na cadeira. Aquilo não se parecia com nada que pensara em sua defesa.- Como assim?
 Enquanto olhava silencioso para o chão sob a mesa, feita de um material que nem sequer sonhava antes ver, pois havia resolvido o problema da sustentabilidade planetária, sendo usado em tudo, desde prédios , carros , casas e tecnologia, a advogada Vírinia olhava para o astronauta terráqueo. Era forte, e seu olhar demonstrava seu treinamento e instrução acadêmica e técnica. tinha a quele olhar inquiridor que é necessário aos que se aventuram pelo oitavo mar, o espaço sideral. Mesmo com tudo que os separava ideologicamente, e que naquele momento os separava e o confundia, a natureza de nossa reticente defensora, se inclinava pelo interesse no exemplar da Terra.




O oficial entrou pelo gabinete do comandante superior sem ser anunciado. O suor na sua testa denunciava a gravidade da situação.  Antes mesmo que ele abrisse a boca o comandante já estava em pé e atento, apenas pelo cheiro e a vibração que gerara a movimentação dos corredores.
-Abriu-se uma janela entre os mundos , senhor!- Disse o oficial em tom severo- Como havíamos previsto, a passagem do objeto terrestre pela anomalia cósmica fez que se alterasse a barreira kármica, e em seis horas Eternus pode lançar um ataque!
-Já temos os números de quantos atacarão desta vez?-Perguntou o comandante sem disfarçar sua preocupação. - Já faziam trezentos anos que não acontecia uma ataque! Qual foi o crescimento exponencial das tropas?
 -Duzentos por cento, senhor! Se atacarem com 50% da excedente estaremos em maus lençóis!- Respondeu acionando o holograma do planeta vizinho, ao lado de um do próprio planeta Karma.
O planeta Eternus era pouco menor que Karma, e também menos populoso. Mas os hologramas mostrava que ao contrário do planeta maior, que era pacífico e na maior parte residenciorural (Foi a união dos conceitos sustentáveis para a permacultura humana, cada casa deveria produzir algo para comer, no mínimo. E ter contacto com a natureza representada na fauna e na flora, sem escravizar ou excluir de direitos nenhum ser consciente, orgânico ou mecânico), havia poucas unidades militares em comparação com o tamanho da população.
 Eternus, o menor, era coberto por complexos industriais e núcleos de atividade militar do tamanho de cidades inteiras.
 De longe o que parecia é que Karma vivia por viver, enquanto que Eternus vivia para se defender de algum inimigo iminente, evitar a guerra civil planetária, ou se vingar do universo, assim que conseguissem sair dali.
 Sim, os habitantes de Eternus começaram como uma colônia de exilados e auto-exilados de |Karma, e todos por desavenças político ideológicas insuperáveis, que levaram os habitantes de karma a considerá-los indesejáveis personas non gratas em todo planeta. O que devia gerar um certo desejo de vingança, já que os cidadãos eternianos eram conhecidos por serem orgulhosos e não aceitar seu exílio como uma derrota ás suas idéias, mas apenas um acidente necessário para a purificação do pensamento e o fortalecimento das potências eternas no tempo.
 Tinha a eternidade, e assim julgavam ter o próprio tempo em suas mãos. Mas o tempo ainda não lhes dera seu domínio sobre o espaço de Karma, que ainda gerenciava todo o setor comercial, ainda que com interesses altruístas e generosos para o abastecimento regional cósmico local. Eram estes como que uma potência hegemônica , pela sua neutralidade e precisão em manter o delicado equilíbrio diplomático, que envolvia um planeta com seres virtualmente eternos, belicistas e desejosos de vingança e domínio.
Muitos outros mundos já haviam considerado melhor a aniquilação dos eternianos, mas os karumanos os tratavam como um filho que desviou na adolescência e que carecia de mais amor. Os eternianos não eram reciprocamente odiados como queriam. Na verdade seu irmão maior sentia pena e tentava equacionar o erro de julgamento que considerava o conjunto de decisões que levou o eternianos ao exílio em Eternus.
 Orgulhosos de suas decisões , não mais se chamaram de karumanos. E julgando-se além da sua raça progenitora, por serem agora imortais, adotaram o nome do planeta menor como insígnia e bandeira. E assim se tornaram a maior ameaça já vista no cosmos, ainda que sob controle, até agora.



 -Posso ver pela insígnia no seu uniforme que você é da Terra, que fica do outro lado do universo, tirando o idioma, que é contornável, e  a espécie humana, parecida com um ancestral recente nosso, as coisas aqui em Karma são muito diferentes de lá. Pelo nome do nosso planeta já dá pra você saber que nossa lei é toda baseada num sistema de crenças diferente do seu, que em seu planeta começou como um conceito em algumas religiões que tinham contato com nossos telepatas mais potentes, que mandavam mensagens e imagens telepáticas para as anomalias cósmicas vizinhas, para difundir nosso conhecimento e ajudar sistemas estelares mais jovem , como o seu. Como por algum motivo desconhecido por nós o conhecimento a respeito disso foi cristalizado no início em seu planeta, ficando o conceito de vocês um pouco obsoleto, e defasado com relação a tecnologia. Aqui, evoluiu muito a relação entre razão , ciência e karma. Que chamamos de karma quântico, dado que o karma é gerado em todas as direções possíveis , e afeta todas as dimensões entrelaçadas. Netse momento , o karma da Terra está se entrelaçando com o nosso, e precisamos evitar que seu planeta se torne alvo do karma eterniano, pois nos sentimos responsáveis. Eles rechaçam , assim como o seu ocidente, o conceito de karma, e são, pela religião, dados a buscar a eternidade, idéias que pertencem ao karma que é provocado pelo nosso planeta irmão, pouco mais desenvolvido , por sorte de materiais , que a Lua. Mas que se tornou uma ameaça bastante significativa a todos os mundos que se entrelacem com ele. Como sua advogada vou te explicar tudo. -Arnald ouvia tudo calado e atento. Mas em sua cabeça , não podia evitar o pensamento de que aquela mulher , e talvez toda raça, fosse paranoica, alucinada,  e alucinogênica. Pois tudo que ela dizia, apesar de ser o oposto do que sabia, fazia um imenso sentido. Então considerava que poderia estar sob o efeito de alguma substância. Sentia um cheiro que o absorvia, mas não conseguia distinguir de onde vinha. Era bom estar ali, apesar das condições, e principalmente , era bom estar perto de Virínia, e ouvir a sua voz e as coisas que ela dizia. Sentia esperança de sair da situação que estava , através dela, e conforto, mesmo estando na mesma posição, já por algum tempo.
 -A morte para nós é natural-continuou a fêmea karumana- ninguém é punido em caso de acidentes.  Em caso de assassinato, aplicamos a pena de banimento para Eternus, e também ninguém tem o direito de prolongar a vida.
-Entendemos que a vida tem um tamanho diferente em cada indivíduo e que esse tamanho é proporcional ao karma do indivíduo, quando acaba o karma , ou ele precisa se reorganizar, se complicando ao máximo para se desfazer, acontece uma doença ou um acidente, mecânico , ou biológico, como uma falha final, e a pessoa morre. Aqueles que tentam salvar vidas interferem. E não só no karma pessoal do pobre moribundo, mas no karma planetário, o que acaba interferindo na felicidade de todos no planeta. Veja bem, é como se a vida não gostasse de ser enganada e quando percebesse que isso aconteceu, cobrasse de toda a espécie viva do sistema kármico, amplificando-se isto a todo karma que estiver entrelaçado a tal forma de vida, seja por uma idéia, ou mesmo um átimo de pensamento contrário a natureza. È um equilibrio muito mais fino e delicado do que se pensava antes do advento quântico, que aconteceu há muito tempo aqui, mas está apenas começando no seu mundo.- Parou para ver o que ele havia entendido, não era, ela mesma , uma boa telepata, por isso preferida as leis. Era mais adequado ao seu nível de empatia. Os mais empáticos eram designados e até esperados antes de nascer nos centros religiosos quânticos e de medicina karmica.
-A morte não é punida , mas o salvamento é?-Agora Arnald estava sem chão- Vou ser julgado por salvar? E qual é a pena?- Costumava ser prático nos assuntos da vida, ia sempre direto ao ponto.
-Prisão perpétua, no caso dos karumanos não renegados, pois não podemos correr o risco do condenado salvar outra pessoa quando não tiver ninguém vendo.
 -O salvamento gera um vício, e quem é salvo também passa na maioria das vezes a dar mais valor a própria vida que a lei de Karma, causando desequilíbrio no planeta. Por  causa das endorfinas e substâncias naturais , que antes eram necessárias a sobrevivência do nosso corpo animal, não muito diferente do seu, mas que foram evoluídas, aqui, para serem educadas e compreendidas. Para serem usadas , ou suprimidas por vontade de acordo com a circunstâncias. ossa circunstância atual , e já é essa há duas eras mais que seu mundo, é de superpopulação planetária, mas em perfeito equilíbrio, mesmo tendo como vizinho uma raça de seres eternos e hostis.- Obviamente, Virínia não sabia das previsões do centro de defesa para as próximas horas.
-Mas que desequilíbrio pode causar uma vida que dure mais?- Arnald considerou 'seres eternos' , um erro de interpretação do idioma, e se concentrando em seu próprio problema, que era sair dali, perguntou novamente sobre que crime havia cometido afinal.
-Nosso planeta é quase tão populoso quanto a Terra, a unica coisa que mantém o equilíbrio entre os nascimentos e óbitos é a lei do Karma. Sem ela haveria mais nascimentos que mortes e assim o planeta explodiria com a superpopulação. Nossos recursos que são igualmente divididos entre todos os habitantes seriam insuficientes e teríamos que recorrer ao planeta Eternus, que digamos , não é lá muito cooperativo conosco.
-Para vc ter uma idéia, quando ainda éramos extrativistas, nós mineramos muito o planeta Eternus, e o chamamos assim, porque pensávamos que ele seria uma fonte de terna riqueza para nossa raça.


-Foi quando invadimos Eternus que os vizinhos dos sistemas estelares próximos se apresentaram, há muitos séculos atrás. Não tínhamos superpopulação, pois havíamos adotado leis planetárias de educação para planejamento e controle de número populacional muito antes de ter tal tecnologia. Já havíamos decidido que nosso planeta não seria bélico, e que não colonizaríamos o próximo planeta, apenas extrairíamos o necessário, e como não havia sido descobertas algumas fontes de energia ainda, precisávamos de minério para compensar nossa baixa produção de energia limpa.
-Os especialistas em karma regional então explicaram que nosso planeta, dada a disposição para a paz e a cooperação, por não querer se espalhar pelo cosmos, mas apenas implementar seu p´roprio planeta e vizinhança, tinha excelentes chances de ser um monolito diplomático numa região karmicamente tensa. Que era quase como se o próprio karma multiversal tivesse se manifestado neste planeta para mostrar, em como se complica e como se equilibra, usando o próprio multiverso, como que para mostrar caminhos e erros, de interpretação ou formulação de informações, de parte a parte do universo.
-Eles previram o surgimento do karma eterniano, por causa do uso da palavra eterno em um universo passageiro, que segundo eles , gerava muitos paradoxos nas ondas de pretensão , escondendo demais a verdade da intrasitóriedade da forma e da interpretação da informação neste tempo/espaço, que tende ao aumento do caos. Já que o nível de entropia da terceira dimensão apresentara-se como sempre crescente, e aparentemente estava também disposto a demonstrar isso a toda dimensão, usando aquele setor longínquo do universo, e seus setores entrelaçados , fosse por linhas de gravidade, kármikas , ou quânticas, através da anomalias cósmicas.
-Tudo isso era muito novo para nós, mas o seres karumanos dos sistemas vizinhos se mostaram poderosíssimos telepatas, conseguindo ler toda nossa tecnologia a distância, e prevendo, ainda que não interferindo várias invenções e descobertas fundamentais que se deram, diziam eles, por causa do advento do encontro entre caminhos de dois planetas e uma boa intenção planetária.
-As novas tecnologias nos deram a liberdade de novas decisões com relação a Eternus, como não mais extrair  minério de lá, e não mais enviar karumanos para lá. Fazendo voltar também os karumanos que lá estavam, pois até então ninguém se chamava de eterniano, e apesar do tamanho do planeta vizinho, considerava-se o irmão menor como um satélite, quase um mascote karumano com um nome bonito.
-Os karumanos do sistema b5, nos revelaram então uma verdade que não conhecíamos: Assim como os animais e plantas que habitavam os planetas, os próprios planetas tinham vida, e observavam as coisas que aconteciam em sua superfície, como qualquer ser vivo olha para as cicatrizes de sua pele ao lembrar de seu passado.
-Disseram que o planeta Eternus não aceitaria uma retirada pacífica, e que um dia suscitaria um karumano que se chamasse eterniano, e nos preparou para as guerras que acontecem em nosso sistema há cinco séculos.
-Quando surgiram as idéias que levaram ao karma eternianano, nós estávamos preparados tecnologicamente, mas não psicologicamente para seu efeito, pois as técnicas psicológicas requerem práticas muito severas e longos treinamentos meditativos, e só os mais especializados tinham tal disciplina. O surgimento dos auto afirmados eternianos, que proclamavam o desejo a eternidade e a um mundo de vidas eternas, abertamente, tomou de assalto muitas regiões do planeta, e muitas famílias de repente se viram divididas e ou tendo que entregar algum membro da família, ou vizinho, ao regime. Foram os anos negros em que os sistema kármico e seus milhares de adeptos viu surgir seu filho pródigo e ganancioso.
-Apoiados na tecnologia que receberam do sistema , mas deturpando e forçando limites éticos, os eternianos descobriram o inibidor de morte, e retardador , em alguns casos estacionador, de envelhecimento. Que se tornou o símbolo de sua luta: A conquista da virtual vida eterna e a defesa do direito a ela. O marketing excluía totalmente os riscos e custos do processo, já que o planeta já era quase que totalmente populado, observado o crescimento vegetativo, já controlado. A negativa da morte causaria desequilíbrio nos suprimentos , caso apenas 15 % decidisse parar de envelhecer e não morrer. Ao atingir 5%, o governo planetário, apoiado pelo conselho setorial do karma, decidiu exilar todos os tributários do sistema eterniano para Eternus, que sabia-se já deserto, e apenas com ruínas e crateras de extração mineral. As famílias dos rebeldes, mesmo reticentes, não conseguiam suportar a vergonha da traição planetária alardeada pelo governo. Enquanto que os próprios rebeldes não ajudavam a conciliação, queimando bandeiras e codexs, que era o código kármico mais atual, em praça pública, sendo assim rejeitados por todos dentro e fora do planeta através de mensagens de todo universo conhecido, mas se julgavam rompedores de conceitos, mártires da evolução existencial.
-Maior ainda foi a surpresa, ao levarem os deportados para Eternus. Pois ao aterrizar , as tropas karumanas foram rendidas por rebeldes que inexplicávelmente tinham uma base interia escondida no planeta, que agora descobriram que nunca fora totalmente evacuado. O planeta simplesmente protegeu e escondeu os rebeldes, cumprindo as previsões dos mestres kármicos setoriais.
-Assim nasceu a ameaça eterna, e a única vergonha do sitema kármico em todo o multiverso.



O alarme tocou dentro do quartel general planetário, também conhecido como O Domo, porque cobria todo planeta com escâneres todo o tempo. A luz vermelha da sala de defesa , que nunca havia surgido substituiu repentinamente , e as palavras "Alerta Vermelho!" começaram a se repetir pelo recinto.
-Comandante, estamos sendo invadidos por trás da anomalia cósmica! - Gritou o homem que ficava olhando para o holograma central.
-Eu sabia! Preparem os escudos e tubos de teletransporte direcionado.
As defesas dos karumanos não eram como estamos habituados. Enquanto que os eternianos atiravam e cortavam como nós, os karumanos usavam armas paralizantes e transportadores com marcador fixo na prisão, ou no caso dos eternianos, de volta para Eternus. Enquanto os eternianos tratam os karumanos como inimigos, os karumanos os tratavam como crianças , que apenas precisam de mais tempo e da atenção que estão pedindo, até o banimento , de novo e de novo.
 Os eternianos detestavam isso, repetições de destino. Pois numa guerra os eternianaos iam e voltavam muitas vezes para Karma durante a janela gravitacional, o que além de frustados no fim de cada batalha, também os deixava cansadíssimos, pois era imortais, mas se cansavam e precisavam às vezes dormir por dias para recuperar as forças. Outro motivo pelo qual a economia de energia em Eternus nunca se equilibrava, eles precisavam de muita energia nos processos de cura e reposição de forças após atividades extenuantes. E nada mais extenuante que quatro ou cinco viagens interplanetárias em poucas horas. E não tinham a tecnologia de teletransporte, o que sempre dera a vitória para os karumanos. Poder determinar onde vai estar o adversário é uma maneira de sempre evitar conflitos. Vantagem que os pacifistas não podiam se furtar de usar, e que os belicistas jamais poderiam ter. Verdadeiras peripécias já haviam sido tentadas para se apoderar da tecnologia, sem sucesso sequer da compreensão do funcionamento, pois não era tecnologia original de karma, mas havia sido trazida de outra galáxia pelos guardiões setoriais.
 -Quanto do excedente estão usando?-Perguntou o comandante? -Informe a Alfakarumana!- Que era a presidente eleita do planeta, posição que só era exercida em tempos de crise, ou guerra.
 -15 ou 20%, Senhor! E estão com disrruptores de frequência, não conseguimos captar perfeitamente seus sinais para a mira automática dos transportadores. Os pilotos vão ter que facilitar para os canhoneiros, se arriscando.
 -Transmita as ordens! - Sentenciou o Comandante.
 As ordas de naves começaram a aparecer por trás da anomalia, contornando-a, enquanto que da base secreta, livre da visão dos demais karumanos, por ser situada no meio do oceano maior, o Aquamor.
A população não era alertada a amenos que a frota inimiga se aproximasse demais ou invadisse o planeta.  Naves com canhões de teletransporte e escudos defletores potentes subiam do planeta, tentando se defender da invasão. A imagem das duas frotas indo em direção a outra era como se dois enxames de abelhas, ou nuvens de pardais, se voltassem uma contra a outra. Enquanto os lasers e canhões magnéticos eram disparados de um lado, do outro armas silenciosas moviam campos invisíveis que ao atingir a nave adversária a transportava de volta para a atmosfera de seu planeta de origem, fazendo-as ter que parar, abastecer e recomeçar, o que os eternianos faziam xingando mais ou menos, de acordo com quantas invasões já haviam feito antes. Os mais experientes apenas ficavam entendiados , como que começa um videogame na fase fácil, pois estes sabiam que após duas transportadas forçadas dessa depois o piloto estaria provavelmente desacordado numa nave flutuando a deriva sobre ternia, se não estivesse concentrado, pois andar no tele-transporte podia extenuar durante a viagem, como num nocaute. A nave desligava e entrava em stand by , enquanto o piloto ficasse assim. E o novato era então vergonhosamente recolhido por outra nave para o solo, não sem sofrer um bullying dos mais experientes antes.
 -As naves estão sendo repelidas , Senhor! -Disse confiante o observador do globo holográfico.





Nossa! quer dizer que não há pobreza , riqueza, fome, nada disso?- Espantava-se nosso astronauta, olhando cada vez com mais admiração para aquele mundo dual.
-Exatamente - Disse Virínia- em karma há igualdade entre todos os habitantes. sejam orgânicos, mecânicos, ou animais não humanos. O próprio planeta e os Universos tem cartilhas de direitos e leis de proteção muito precisas neste tempo/espaço.
-Mas e a medicina , aqui não há medicina?
-Não, em karma ninguém evita dores, doenças ou morte. Simplesmente aceitamos nosso destino como parte de nosso aperfeiçoamento moral, e não interferimos no aperfeiçoamento alheio também, cada um tem seu tempo de aceitar suas provas. O que vocês chamam de medicina em seu planeta, que é um conhecimento muito restrito. Aqui, é conhecido por todos, mas à muito deixamos para trás técnicas invasivas, e traumatizantes, pois acentuam o karma, sendo entendido pelo universo como uma inversão de percurso natural das forças construtoras e destruidoras da vida. Causando uma resposta reforçadora do karma, para demonstração ao ente, seja isto um planeta, uma pessoa ou uma bactéria, de que a vontade do ente maior, e sua precisão não comportam negativas aos entes menores envolvidos em seus movimentos internos. O universo entende que uma doença é um seu filho , tão digno e amado de ser aceito quanto a saúde que do mesmo universo nos advém. Adoecer e morrer é normal.- Encerrou com uma pausa tranquila.
-Mas com tanta tecnologia , vocês poderiam ter uma medicina muito adiantada e talvez até viver para sempre!- Insistia, não querendo desistir de seu próprio sonho humano de eternidade.
-Quem quer viver para sempre é banido para Eternus.-Sentenciou Virínia.-Lá isso já é possível.
-Quer dizer que vocês podem viver para sempre e escolhem adoecer e morrer?
-Olha Arnald, compreendo sua admiração, conheço a história do seu planeta e como lá vocês buscam isso como se fosse bom , mas acho que você nunca parou para pensar que, para viver para sempre , vocês teriam que abrir mão de suas maiores alegrias. - Disse , abrindo um arquivo entre eles, onde se viam as alegrias simples da vida, como plantar , comer e brincar com crianças.
-Que alegrias? Morrer ou adoecer?
-Ironia... Você tem filhos? - Disse abrindo um holograma com várias pessoas de uma mesma família, como num comercial de margarina.
-Não.- Disse , enquanto lembrava-se do seu planeta.
-E quer tê-los?
-Claro! Quando voltar a terra e constituir uma família quero tê-los.
-Esse é o maior motivo de aceitarmos a morte e as doenças, não abrimos mão do amor conjugal e paterno/materno, ou mesmo a paternidade homossexual. Sem mortes não poderíamos continuar a ter filhos e a espécie se estagnaria, sem evoluir, na geração em que se tornou imortal, foi isso que nos levou a aceitar o Karma.
-Em Eternus , por exemplo , ninguém pode ter filhos e foi por isso que todos que quiseram a imortalidade migraram para lá e adotaram o nome desse nome ao planeta. Abriram mão da paz e da igualdade de Karma pela imortalidade e a cura de muitas doenças , mas não uma vida menos problemática ou dolorosa e não podem ter filhos.
-E também tem todos os outros inconvenientes de pensar assim. Quando uma pessoa acha sua vida mais importante do que todo o resto , tem sentimentos de ganância. Eternus tem uma população pequena e estável, mas sempre que banimos pessoas pra lá, por querer ser imortais, acontece uma conspiração para matar outros, para que continue o número estável,como as pessoas recém chegadas são normalmente mais evoluídas e por isso mais úteis para a tecnologia de lá, os escolhidos para perder a imortalidade são pessoas que já são assim há muito tempo, pessoas que enriqueceram e se apegaram, elas sofrem muito ao perder a eternidade e como não nasce mais ninguém lá , elas encarnam e outros planetas como aqui e a Terra.
- Assim lá não é erradicada a desigualdade , pois todos competem para ter mais que os outros, sem falar de quando invadem nosso planeta para roubar bens e pessoas, que são eternizadas sem consentimento, para servirem de escravos pela eternidade. Eles têm a imortalidade ,mas seus karmas permanecem, então têm doenças e gastam seus recursos naturais para tentar curá-las, mas quando conseguem a cura para uma doença a lei do karma entra em ação e surge uma doença nova , as vezes mais grave do que a que foi erradicada. Eternus tem doenças horríveis , principalmente por não haver a morte para dar fim ao sofrimento.
 Enquanto ia ouvindo o relato de Virína, Arnaldo ia pensando na Terra e em como era exatamente assim que as coisas iam lá, só não tinham a imortalidade, realmente as pessoas davam mais importância a própria vida na Terra do que ao equilíbrio do planeta e queriam se sentir bem a qualquer custo, sempre que conseguiam curar uma doença aparecia outra pior. Os recursos não eram divididos igualmente e iam se tornando cada vez mais escassos. Percebeu que apesar de não ter imortalidade , a terra era bem mais parecida com Eternus do que com Karma, até ter filhos para muitos ia deixando de ser importante.

-Alguma coisa está surgindo pelo outro lado da anomalia!- Disse o observador de um instrumento no canto da sala.- Eles estão vindo em dois flancos! Tem mais 15% das tropas excedentes daquele lado! agora são 35% , força total nos canhões de tele-transporte!
A sala continuava vermelha, e os rostos da equipe de defesa agora não estavam tão confiantes. Uma enorme mancha negra vinha na direção do planeta maior, e rapidamente passou de um tamnho similar a anterior para quase o dobro do que era, se expandindo como uma bolha crescente.
-Não! Não são 15%, são pelo menos 40 %! -Disso o próprio comandante que atravessara a sala e colocara seus próprios olhos na máquina.- Estamos em sérios apuros! Soe o alarme nos continentes!
-Os alarmes começaram a tocar e em minutos todo a população se movia como uma.
 As pessoas sabiam que não era um treino, e a ameaça vivia literalmente sobre a cabeça de todos eles, não deixando espaço para dúvida, teorias de conspiração , ou hesitação nos casos de evacuação. Mesmo após séculos de paz, não haviam se esquecido de como o perigo descia rápido do céu.
Karma era dotada com abrigos enormes, totalmente selados contra invasões, para que os eternianos não conseguissem capturar e eternizar civis à força. Principalmente os karumanos de ciências e os embaixadores kármicos setoriais.
À medida que as naves escureciam o sol, passando pelo bloqueio atmosférico, canhões de tele transporte surgiam do solo. Transportando a população para os abrigos, ao mesmo tempo que atiravam para o céu na tentativa de reduzir ao máximo o dano da invasão.
O tempo era o maior inimigo dos karumanos, que tinham que partir nos teletransportes antes que os inimigos aterrizassem, pois as próprias máquinas se selam em material impenetrável quando o tempo do alarme determinava que os inimigos estavam perto demais da tão vital tecnologia. Canhões eram programados com auto-destruidores, caso fossem apanhados e hakeados.








- tenho que ir até ao juiz ver o que decidiram a seu respeito, nunca julgamos uma habitante da terra aqui , pode ser que você receba clemência se decidir aceitar a lei de Karma. Pode até conseguir a liberdade e permanecer aqui, quem sabe. Até logo.
E assim dia a dia, nas idas e vindas para o julgamento, Virína ia ensinando para Arnaldo a lei do planeta. 
Arnaldo foi ganhando a confiança dos magistrados e dos carcereiros e já ouvia pelos corredores que seria punido ,mas que não seria prisão perpétua. Ia se acostumando com a paz que era o planeta, exceto quando os eternuanos apareciam para roubar. Se acostumou a ver as pessoas morrerem aceitando. Já não queira voltar para a Terra, nem muito menos ser um imortal em Eternus. Queria a paz e a igualdade de Karma e já pensava que ali seria o lugar certo para casar e criar seus filhos. Ficou feliz de ter ido para em um planeta tão adiantado, parecia uma utopia!
   Naquele dia quando Virína entrou de volta no corredor em que estava, sorriu e antes que ela dissesse as novidades foi falando:
-Virína , eu aceito a lei de Karma, juro que não salvo mais ninguém! Só quero cumprir minha pena e se possível continuar neste planeta. Deixe-me falar com o juiz!
Mas ela estava séria.
-Arnald não sei se você compreenderá isso, mas é tarde demais, o juiz já decidiu o seu caso, você será libertado, mas não poderá continuar em Karma. Sua nave foi consertada e você será mandado, através da mesma nuvem de raios cósmicos de volta para a Terra.
Arnaldo chorou. Após algum tempo se recompôs. 
-Tudo bem. quem sabe eu consiga divulgar a lei de Karma por lá e assim um dia a Terra será tão bela como aqui , tão pacífica como aqui e também igualitária.
 Virínia também chorava.Sentia que ele agora era um verdadeiro cidadão de Karma. Havia se apaixonado por Arnald e queria que ele ficasse , apesar de não poder fazer nada e também não poderia ir com ele.
Enquanto era escoltado pelos soldados do planeta, tendo Virínia ao seu lado, sentia uma tristeza imensa em ter que se despedir daquele paraíso. 
-Adeus Virína , nunca esquecerei de você ou desse lugar!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

UM MUNDO SÓ

Sim! Queremos o mundo!
E queremos como era antes,
Nem terceiro, nem segundo.
Primeiro, inteiro, novo,
Não primitivo, nem partido,
Nosso mundo, um mundo todo.
Queremos unir o terceiro mundo,
O novo mundo e o velho mundo.
Queremos esquecer que um dia,
Por pura ganância,
Dividimos o mundo num engodo!
Em velho e novo,
Em primeiro e segundo,
E até terceiro mundo.
Queremos poder passear
De cá pra lá e de volta pra cá.
Queremos nos lembrar
De como fizemos esse nó,
Para, quem sabe assim,
Voltar a unir
Tudo o que dividimos tanto
De volta em um mundo só.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

É O FIM DO MUNDO! (É MENTIRA)

    Era um domingo quando o sol escureceu.
    Ele pirou e disse: -Aconteceu!
    Era o sinal que tanto esperava,
    De uma mentira que então participava.
    Vestiu a placa e parou numa esquina,
    Desesperado com sua própria sina,
    Enquanto os carros e pessoas passavam,
    Em plena voz gritava:
    -É o fim do mundo! É o fim do mundo!
    -Acabou! Acabou!
    -Daqui pra frente é início do fim!
    -É melhor você acreditar em mim!
    Mas outro dia chegou.
    E o pirado normalmente acordou.
    Viu que o fim estava atrasado,
    Mas aquilo sequer o abalou.
    Vestiu de novo a placa e foi para a mesma esquina.
    Desesperado com sua própria sina,
    Enquanto os carros e pessoas passavam, 
    Em plena voz gritava:
    -É o fim do mundo! É o fim do mundo!
    -Acabou! Acabou!
    -Daqui pra frente é o princípio do fim!
    -é melhor você acreditar em mim!
    -Daqui pra frente é o início do fim!
    -Queiram ou não queiram, vocês terão que acreditar em mim!
    E assim dia após dia, 
    Passou a dizer que o mundo acabou.
    E a cada manhã se convencia,
    Que o fim estava apenas atrasado,
    Para não admitir que tinha falhado,
    Fazendo a previsão de um fim que jamais chegou. 

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Se o mundo fosse acabar...

GOSTARIA ANTES DE ME APAIXONAR E SER CORESPONDIDO DE CARA, PARA EM SEGUIDA FAZER AMOR COM ELA OLHANDO NOS OLHOS E TER COM ELA UM ORGASMO SIMULTÂNEO,

DE FAZER UM SHOW LOTADO DE SUCESSO ESTRONDOSO DE PÚBLICO E CRÍTICA,

QUE UM DOS MEUS AUTORES PREFERIDOS ELOGIASSE O QUE EU ESCREVO,
 

DE VER TODAS AS DOENÇAS SEREM CURADAS PELA MEDICINA,

DE VER A MISÉRIA TER FIM NO PLANETA, ASSIM TAMBÉM TODAS AS GUERRAS,
 QUE TODOS OS LIVROS QUE SE DIZEM DONOS DE DEUS (SER SUPREMO OU QUE NOME TENHA OU NÃO) E DA VERDADE PASSASSEM A SER APENAS LITERATURA, E ISSO EU GOSTARIA MUITO.

GOSTARIA DE CONVERSAR CARA A CARA COM UM E.T. (E QUE ELE FOSSE BONZINHO),

QUE TODOS OS PAIS FOSSEM O ORGULHO DOS FILHOS E VICE E VERSA,
 DE VOAR. 

GOSTARIA QUE TODAS AS ESPÉCIES FOSSEM LIVRES E QUE NENHUM ANIMAL SE ALIMENTASSE DE OUTRO,
QUE HOUVESSE A REVERSÃO DE TODA A POLUIÇÃO,

E SERIA MESMO UMA PENA QUE UM MUNDO ASSIM ACABASSE...

MAS JÁ TERIA VALIDO MTO A PENA VÊ-LO MESMO POR UM POUCO DE TEMPO...

ME LEMBRARIA DOS MONGES DO TIBET , QUE DESENHAM LINDAS MANDALAS COM AREIA COLORIDA , DURANTE UM DIA INTEIRO, PARA DEPOIS APAGÁ-LAS COM GRANDES VASSOURAS , SEM TER AO MENOS TIRADO UMA FOTO, SÓ PRA LEMBRAR QUE TUDO PASSA...

Entre vielas sombrias

   Entre as vielas sombrias corria a criatura. Sem entender o que ou quem era, sentia apenas seu coração retumbando, pela velocidade imprimida ao sangue bombeado e o medo daqueles que o perseguiam.
   Olhando para o chão pôde reparar que não corria apenas com os pés, suas mãos também batiam o solo, grotescas e em garras animalescas, imprimindo ainda mais velocidade a fuga.
   Mas do que ele fugia ?
   A viela se tornou de repente ainda mais estreita , para fazer a curva sem diminuir,
mudou o centro de gravidade do corpo, e agora, suas mãos arrancavam a cada batida
pedaços do substrato, que só então pode perceber não ser mais o chão. Estava correndo pelas paredes.
   Mesmo estando estupefato não caiu. Seguiu mais rápido ainda, até que a viela desse de esquina com uma rua mais larga.
   Tranqüilizado pela distância segura, parou e olhou para trás. Realmente eles ainda o seguiam, não corria em vão. Seus uniformes podiam ser vistos de longe.
   Em suas mãos o temido objeto, que não distinguia se era uma arma ou um livro.
   Continuar, preciso continuar ,pensou...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Montes de vênus

 

   Montes de nuvens,
De gases inebriantes,
De efeitos extasiantes,
De altos picos gêmeos,
Em altos montes,
E montanhas abundantes.
    E em sua planície,
Igualmente diáfana,
Que maravilhosos campos!
   Que conduzem a suas maravilhosas águas,
Isso mesmo águas de Vênus!
   Águas de Vênus...
Condensação de suas nuvens,
Chuvas anestesiantes,
Psicodélicas.
   Suas águas  brancas brotam então de seus picos,
De sua terra,
De suas fontes ocultas... 
   Sim, Vênus tem fontes ocultas.
   Seu caminho, por poucos conhecido,
Se inicia numa caverna,
Que não está nos altos picos,
Nem nas montanhas abundantes,
Ainda que haja quem esteja sempre procurando por ali.
A fonte da juventude, 
Com sua deliciosa água, 
Encontra-se, na verdade, oculta,
Sob o menor dos montes.
   E como choram de alegria os que o encontram...
   Beijam esse solo,
E querem ficar ali para sempre,
Como se ali tivesse sido sempre sua casa.
Sua primeira morada...
   Ah! os montes de Vênus...
Seus altos picos...
Suas montanhas abundantes...
Suas águas ocultas...
   Um dia novamente viverei lá,
Passearei por suas paisagens e através de sua névoa,
Repousarei sempre,
Sob o pequeno e inefável monte de Vênus.

Sonhos

   Muita gente não sabe, mas se souber que está sonhando pode ir a qualquer lugar no sonho.

Muita gente também já sabia isso.
  O que nem tanta gente sabe é que a vida também é um sonho, só que dividido por outros sonhos.
  Tudo é ilusão aqui, e engana. Foi feito pra isso, nos prender pelos sentidos, pra que a gente queira ficar até o fim, Pra nos convencer que mesmo que não seja um sonho de vida, é melhor que morrer, e que é incontrolável, como o sonho.
  E é pra isso mesmo que escrevo isso. Para lembrar a quem quer que esteja lendo, você pode controlar o sonho, pode aprender a fazê-lo. E então aprender a controlar o maior de todos os sonhos. A sua vida real.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

SIM OU NÃO?

    "sim, mas..." " não, mas..."
    Começar um texto assim pode nos trazer a nata do discordionismo.  Pode ser isso que precisamos. Pessoas que olhem pra situação com a atenção de quem está realmente viajando naquilo, o que alguns chamam de visão contemplativa. Quando seu olhar simplesmente se joga e se entrega ao que está vendo, captando não só a imagem que se descortina, mas também, toda e qualquer semelhança ou diferença com aquilo em seu ser.
   E é aí que vemos o que está errado. Depois de ver, com o interior, o que era pra ser, e que não concorda com o que estamos vendo do lado de fora, é então que discordamos do que vemos fora. Que dizemos não com a mente e sim para a mente.
   Mas o curioso é que pra não ficar negativo dizemos então "sim, mas..." Como uma maneira covarde de discordar concordando. E daí pra frente só vem defeito.
   Mas inverta tudo e ficará, no mínimo, interessante.
   Começe com um "não mas...", que normalmente vem depois de uma crítica ouvida, e olhando novamente para aquela imagem perfeita dentro de você. comece a enumerar as semelhanças com o que está vendo dentro, e ver assim tudo o que está certo fora.
   Normalmente quando faço isto vejo que apenas estou ansioso, que está tudo acontecendo, em cada detalhe, cada vez mais parecido com o que tenho em meu interior. Perfeito ou mesmo uma bagunça.
   São só duas maneiras de ver a vida.
   Discordar ou discordar, com tudo ou consigo, com coragem ou não, pelos erros ou pelos acertos.
   Concorda comigo?