terça-feira, 25 de agosto de 2015

Memento Mori (ou O Poema Mais Inclusivo e Igualitário de Todos os Tempos do Mundo)

Por todos aqueles que morrem em todas as partes do mundo.
Os animais não humanos. Nascidos, crescidos, maltratados, torturados e abatidos, como escravos,
Das mais diversas e cruéis maneiras, no útero, nos úberes, e em todas as idades.
Por todos os humanos que morrem velhos e cheios de dias,
Não importando quanta vida houve neles,
ou por eles foram tiradas.
Pelos que morrem quase velhos, de doenças degenerativas, em dores horríveis,
Pagando o preço dos dias e noites,
Bem ou mal vividos.
Ou mesmo o preço da genética interruptiva,
Tão necessária ao conforto do grande número que resta
Ao crescimento vegetativo da população envelhescente.
Pelos que morrem dormindo, sonhando que acordariam.      
 Pelos que morrem maduros e produtivos, por causa do que comem ou bebem, de auto-intoxicação, de congestão alimentar, ou engasgados no vômito. (estes seria melhor terem comido primeiro os próprios olhos).
Pelas que morrem estupradas, ou de sangrar, por auto-mutilação sexual.
Pelos que morrem com a eutanásia negada, no suicídio legal, clandestino, forjado, acidental, terrorista.
Em acidentes fatais, com fogo e explosões, sentindo a vida queimar-se em si.
 Com eletricidade, num zap, e afogamento em praias bravias, lenta e dolorosamente morrem.
Pelos que morrem em acidentes de trânsito, trem, naufrágio clandestino, agarrando-se a vida, lutando pela liberdade e a fortuna.
Pelos que morrem em guerras, por religião ou geopolítica.
Pelos que morrem arrastados em água barrenta de areia e lixo, por tsunamis, soterrados por terremotos, queimados e sufocados por cinza e lava vulcânica. Congelados para sempre por avalanches de neve.
Pelos que morrem na adolescência , por violência urbana, nas mãos do crime, por overdose, por espancamento por homofobia, por preconceito sócio-racista,
 Ou por aventuras, nas quedas de saltos imprudentes e mal calculados, e nas pixações.
Pelos que morrem na infância, por acidentes bobos e totalmente evitáveis, com produtos químicos e brinquedos engasgados.
Pelos que morrem nas fraldas, sufocados por febres e doenças que não esperam a vida firmar-se. Ou por inanição, em lugares miseráveis.
Pelos natimortos.
Pelos que morrem fetos, em gravidez avançada, sonhando o que nunca desvendaremos, quem sabe com deus/universo. Mortos antes de nascer.
Mesmo pelos que morrem interrompidos em sábios abortos prematuros e seguros, ou os que levam consigo as mães vítimas das clínicas clandestinas.
 Pelos embriões desmontados, congelados, descartados, mas nunca clonados.
Por todos os que viveram, sem exceção. Pois não há, de fato.
 Lembre-se de que és mortal.
 E valorize o momento vivo.

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