sábado, 15 de agosto de 2015

Uma história de chapéus e cachimbos

Essa é uma história do tempo em que todos usavam chapéus. E também do tempo em que todos usavam ter um clube, restaurante, bar ou boteco para beber e fumar, já que ninguém estava totalmente consciente consciente dos males físicos inerentes ao fumo e ao álcool em ritmo e quantidades constantes.
 Numa dessa cidades bem arrumadinhas e com um centro comercial sólido e organizado, e consequentemente pouco aberto a novos investidores e totalmente fechado á aventureiros.
Tais clubes então, se tornavam verdadeiros oásis de  oportunidades de homens de negócios jovens ou vindos de outras cidades começarem seus contatos. Seus convites então, eram dados com muito critério e segundo os interesses mais estritos da comunidade da cidade que a frequentava.
 Havia naquela ocasião um jovem que reunia ambas as qualidades. Era novo e também era forasteiro, ou mais precisamente um retornado. Tinha recebido uma pequena herança e pretendia investi-la naquela cidade, que era a cidade natal de seu falecido pai. Note que era cidade natal do seu falecido pai , mas não era a sua e por que?
 Ora, seu pai nunca tinha conseguido um convite para um clube. Era de origem muito humilde, filho de carvoeiro, mas tinha se destacado na escola e era de ímpeto implacável. Conseguiu juntar de dinheiro e colocou uma banca de camelô, que diga-se de passagem era sistematicamente coibida pela guarda municipal. Mas como vendia produtos artesanais de alto valor, vindos da mulheres dos carvoeiros e até mesmo dos próprios carvoeiros, pois tinham incrível habilidade com fogo e madeira. Tinha clientes mesmo entre os membros dos clubes, e também recebia encomendas. Vendia, entre seus produtos, o cachimbo mais perfeito de toda a cidade, trabalho de seu avô, artesão e carvoeiro ancião.  Uma raridade, visto que carvoeiros não costumavam alcançar longevidade.
Bom, o seu pai era humilde de origem, mas olhava bem alto. Tinha se apaixonado pela moça filha do banqueiro mais rico da cidade, e adivinhem? É claro que havia sido correspondido de cara, já estava até planejando casamento enquanto encomendavam o herói da nossa história, não necessariamente na ordem de eventos recomendada pelo padre.
Nem preciso dizer que ele era odiado pelos conservadores, e teve que fugir com a banca e a mulher gravidas da cidade. Para não morrer, e para ter alguma chance de prosperar sem a necessidades dos clubes.
 Com muito custo conseguiu prosperar numa cidade maior, e sobressair-se onde era , ou deveria ser, ainda mais difícil. Teve o filho. O educou bem, transmitindo-lhe a humildade dos carvoeiros e a sua própria persistência, e da mãe recebeu a característica da coragem: Seguir o coração. E também um fino gosto para roupas, a capacidade de escolher um bom terno e um belo chapéu. Coisa que nenhum  carvoeiro ligava muito, já que para um carvoeiro, estar muito limpo por fora era ser preguiçoso. E ter o chapéu muito limpo era não ter a humildade de tirar o chapéu, com as mãos sujas, para falar de deus ou ante pessoas de respeito. E por serem alvo de muito preconceito, não tiravam muito o chapéu fora de sua comunidade, mas o faziam constante mente ante aos respeitáveis carvoeiros de honra, faziam questão de ser honrados em sua grande maioria, e humildes. "Chapéus sujos, mas cachimbos impecáveis."- Era o lema de um carvoeiro digno. Thiago, filho de José, o mascate, já que a banca tirou-lhe o título de carvoeiro. Tinha o cachimbo impecável, mas também um belo chapéu branco. Seu pai, por todo o passado dolorido, não dedicara-se nem a um nem a outro. Não fumava, e trazia um chapéu limpo demais para um carvoeiro, mas humilde demais para um membro de clube. Ainda assim, vencera a mágoa e transmitira a tradição. Preferira o filho com um belo madeira na mão que com aqueles cigarros modernos que deixavam filtros e cinza por toda parte. O ensinou a fumar e conservar limpo o cachimbo que herdara do avô, talvez do avõ do vovõ... Com o sucesso que herdara do pai nas exportações de produtos artesanais do país inteiro, havia criado cooperativas e revolucionado a vida de muitas comunidades onde chegavam seus negócios. Conseguira se tornar um jovem de habilidade artística, social, e até de futuro político, se assim quisesse, naquela cidade grande. Mas seguia o coração, e tinha em mente apenas restituir a memória do pai , na cidade de onde fugira. Foi assim que para lá voltou. pelo que diziam, com boas roupas, um belo cachimbo e um chapéu de pompa, e também a carteira recheada de notas graúdas.



































































































































continua....

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