terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Mudar o mundo.

O rapaz me convidou para mudar o mundo.
Com uma prancheta de madeira com clipes de papel no alto, perguntava e anotava.
"O senhor acha que deveríamos ter mais empregos?
"Sim!" -Respondo. - "Principalmente empregos inclusivos para aposentados mal pagos e deficientes moderados."
Ele anota.
"E sobre a saúde? "
"Tenho ido a hospitais públicos por quase toda vida, apesar de ter nascido em um particular. Acho que piorou em todas as esferas do poder público executivo, apesar de ser grato pelo socorro que recebo, mesmo com a demora, erros, e as vezes falta de atendimento. Quando sou atendido, sou grato. MAS PIOROU."
" E a educação?"
"Sou uma pessoa mal impressionada com o tratamento intelectual que as crianças recebem. Acho que muitos alunos pra um só professor, e com períodos curtos de ensino, e material didático obsoleto, e profissionais preocupados por serem mal pagos, não funciona. Mas acho que o pior é a falta de educação sexual e humanista. Isso ligado ao número de gravidez adolescente e de menores no crime me assusta. "
Ele anota, e liga um gravador.
"Alimentação? "
"Sou vegan, e penso que isso poderia ser mais incentivado, pelo direito dos animais."
 Ele sorri.
"E no amor?"
"No amor?!? Como assim no amor?"
Ele abaixa o telefone, faz uma careta percebendo que deu ruim e me passa a prancheta.
"Pode assinar aqui?"
Pego a prancheta e leio
"PESQUISA DE OPINIÃO NONONONONE LTDA."
"Pesquisa de opinião???"
"Sabe o que é, senhor, é que além da pesquisa  eu que estamos fazendo, eu sou repórter,  e percebi que o senhor é artista . Então achei que poderia dar uma boa entrevista... E eu sairia dessa, pô... "
"Mas não era pra mudar o mundo?"
"Mas é!!! "- Disse com ar de religioso,  e nesse momento confesso que temi.- "
A empresa NONONONONE LTDA é muito importante e vai mudar o mundo!!! Eu não estou aqui perdendo nosso tempo! Sua opinião é muito importante! (para nós) E tem também a entrevista..."
"Senhor? Senhor?!?" -Enquanto me vê me afastando.
"Bom dia... Mudar o mundo..." -Digo baixo pra mim mesmo.
O sujeito ainda gritava lá atrás. .. "Senhor? Posso publicar a entrevista?  O senho não assinou a pesquisa! !!"
"Pode... pode..." - Aceno longe, em segurança. Seguindo para quem sabe mudar o mundo, ou pelo menos alguma coisa.


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