segunda-feira, 1 de maio de 2017

Infinito

  Em frente ao mais sofisticado e perfeito bio-computador quântico já construído, o matemático centenário continua a tarefa extenuante de ditar o logaritmo que faria a máquina funcionar.
  Depois de bilhões de letras e números , o cientista está na última página.
  A bio-máquina, que levou anos de para ser construída e engendrada, entre as mais avançadas tecnologias de células tronco com o DNA dos maiores gênios da humanidade e os mais sofisticados hardwares feitos dos materiais mais nobres, foi feita para resolver definitivamente por meio de toda influência possível , todos os problemas do ser humano. Fazendo um "reparo '' no tecido quântico-mecânico-espacial, no erro que aconteceu no início do universo, ao mesmo tempo que mantendo as
condições que trouxeram a vida humana. Usando marcos , materiais datados e o entrelaçamento quântico-espaço-temporal, para corrigir tudo menos os erros que levaram nossa existência, por meio da evolução e seleção natural, para sermos ainda quem somos, ao mesmo tempo que corrigiria os defeitos que nos tornaram vulneráveis ao comportamento de rebanho e a auto-destruição de toda espécie, já bem adiantada. Faria com que se reformulasse , mas com entropia direcionada e controlada, e até anulada em alguns casos, toda história do universo, e nos traria uma situação final, em forma evolutiva, mas com continuação temporal suficiente para que o ser humano conseguisse deixar a vizinhança do Sol antes do advento supernova (e o consequente esmagamento da Terra entre a corôa solar e a gravidade de Júpiter, junto com Marte e a lua), ainda como seres humanos, mas sem os atrasos tecnológicos de mil anos, por conta da noite histórica chamada Idade Média, que seria a parte da história mais afetada por correções específicas, e no evitar de mortes de cientistas, botânicos, artistas, filósofos e outras pessoas que recebiam inspirações e comunicações quânticas de mundos mais adiantados. Mas nada disso era entendido naquela época. Havia muito medo e superstições. Causaram mil anos de atraso. As  ondas programadas corrigiriam as decisões nos cérebros da pessoas marcadas pelo logaritmo. Tudo isso seria reformulado e esquecido, exceto pelos arquivistas a H.U. (Humanidade Unida).
  Mas nosso herói de cabelos brancos e raros está cansado. Sua voz é captada, rouca e fraca, por um dispositivo microfônico, mas está falhando, em meio a tosses e um ruído parecido com o ronronar de um gato velho. A respiração parece que não vem. A máquina pára de reconhecer sua voz. Ele toma então a prancha negra de cristal, conectada com a máquina, e começa a escrever com letra manual , na ponta do dedo, a última parte de números letras e algarismos desconhecidos nesta época. A bio-máquina reconhece sua caligrafia e continua a registrar o logaritmo.
"Puta merda... Devia ter feito os malditos exercícios físicos... " Pensa fazendo uma careta de dor. "Vamos! É a última parte, seu velho tolo..." (falava mal de si mesmo em sua mente, pois nunca em sua vida ninguém o fazia, já que era um exemplo para seu tempo. Sentia falta de ser criticado. Fazia isso a si mesmo , mesmos sabendo mentiras o que se auto-imprecava. Não queria sentir falta de nada que o tornasse humano.)
  A bio-máquina espera que ele termine de escrever o código. O tempo espera. A humanidade espera.
 Ele treme, pois percebe que que sua voz se foi porque está morrendo de um ataque cardíaco. Um ataque lento e doloroso que agora é sentido em seu abdômen e cabeça. Decide-se pelo martírio e continua. A causa vale. Tem netos. É viúvo há muito, sem ter encontrado outra parceira (que foi quem projetou junto com ele a bio-máquina, e lhe deu seu nome. ). Seus netos terão um presente e um futuro maravilhoso.
  Já com a cabeça de lado , apoiada na superfície do cristal, escreve trêmulo os últimos três números meio tortos e caindo para a direita : cinco, sete... oito.
 Morre.
  A bio-máquina inicia. O código roda, enquanto ondas quânticas são arremessadas no universo.
 Os efeitos dessas luzes e ondas não seriam percebidos até que alcançassem seus objetivos no tecido tempo-espacial: O início do universo.
 Em meio a sons e as sensações novas, o instrumento tecnológico transcreve os últimos símbolos que leu, marcando para sempre, no destino da humanidade, seu itinerário final:
 "Cinco, sete... Infinito."

FIM

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