sábado, 2 de maio de 2015

Uma estranha vegan.

O caçador estava sentado em um toco, limpando o produto de sua engenhosa e eficiente armadilha, quando a estranha menina se aproximou. Era experiente mas não a ouviu chegar.
-Boa tarde! -disse admirando seus olhos muito castanhos, quase vermelhos.-Está perdida?
Ela se abaixou mais perto e meneou a cabeça negativamente.
-Não. Moro aqui perto, na cabana à oeste.- Disse enquanto se aproximava do outro animal que estava preso, esperando o término da estripação do seu semelhante. O animal tremia e tentava se livrar da gaiola. Tinha uma das patas terrivelmente lacerada pela armadilha em que fora pego. - é nova. Meu pai mandou erguer em uma semana pra mim. Pré-fabricada.
 -Porque você está fazendo isso com eles? Vai comê-los?
 -Essas raposas porcarias? -Disse rindo, enquanto cuspia pro lado. - Não. Vou vender a pele, depois de secar. Nunca viu um casaco de raposa?
-Já, mas sou vegan, então não curto mais.
-Vegan? O que é isso? Uma religião?
-Não! Religião é entre deuses e homens. Veganismo é entre humanos e demais animais. Pra que os animais tenham mais direitos e os humanos mais compaixão.
-Ah! Então você é um daqueles ecochatos!!! EHEHEHE!!!
-Não me acho chata, apenas não concordo com sofrimento desnecessário. Já tem muito sofrimento no mundo. Veja essa raposinha, você não vai comê-la, nem precisaria comê-la já que somos todos macacos agricultores. Porque ela está sofrendo?
 -Ora , eu sou caçador. As pessoas querem vestir peles, então alguém tem que caçar. E não vejo problemas em mata  eganhar um dinheirinho com isso. -Disse enquanto limpava a faca e se levantava .
 O caçador era enorme. Vestia aquelas roupas simples e ao mesmo tempo customizadas por elementos extraídos da caça. Tinha garras e dentes como adornos nos pulsos,  pele nas botas, ossos no cabo da faca. Só de pensar que ele teria matado todo aqueles animais , ela ia sentindo cada vez mais desprezo, e não medo , por ele. Mas ainda tentava convencê-lo, pacientemente. Parecia a espera de algo. Olhava-o com frieza e calculadamente.
 Ela colocou as mãos na gaiola. O animal estranhamente não se mexia. Parecia hipnotizado por ela. E ao ser libertado deitou e estendeu o pescoço.
 -Hey! O que está fazendo? Essa raposa vale um bom dinheiro! E como você fez isso?
 -Não importa. você não vai lhe fazer mal- Disse ela, se levantando também.    
   A menina era adolescente, tinha a pele morena, mas extremamente pálida, como se nunca saísse de casa ao sol. Era magra. Aparenteva fragilidade em tudo que não fosse o olhar. E ainda assim, era atraente.
 O caçador se aproximou e soltou uma ameaça embebida em mau hálito e maldade:
-Escuta aqui, maluquinha, eu vou fazer  que quiser. Esse animal é meu. Você não devia sequer estar sozinha na floresta, já se põe o sol e isso não é lugar para uma menina indefesa e bonitinha, feito você passear.
-Na verdade não estou sozinha. Tenho uma amiga, também caçadora, que sempre está comigo. Ela está te olhando nesse momento e não deve estar gostando da sua atitude. E nesse lado da montanha o sol não bate desde cedo, por causa das outras duas montanhas do vale. Se eu tivesse medo de escuro nem saía de casa...
- Caçadora mas você não é contra caça?
-Ela caça por necessidade. Prefere animais maiores, mas se você deixar a raposa em paz, ela o deixará ir em paz, apesar do seu desrespeito comigo.
-Deixar-me ir? O que pensa que sou, Um animal? Mande -a vir aqui, que dou um jeito em vocês duas! EHEHEHEHEHEHEHEHEHEHE!
-Você realmente não entende, não é? Somos todos animais. Apenas que uns somos conscientes e outros não, e outros ainda, deveriam ser mais não são. Como você, por exemplo. Neste momento, ela precisa se alimentar, e você é o maior  animal presente. Deixe a raposa e corra, enquanto pode!
 Aquilo o assustou, mas sua ganância não o deixaria se desvincilhar da raposa. Fincou o pé.
-Apareça caçadora! É melhor aparecer ou vai ver de longe ou que vou fazer com essa menininha! Disse, se aproximando da menina.
 Foi então que os olhos dela ficaram totalmente vermelhos. Sua feições mudaram, ficando grotescas. Seus dentes se tornaram em presas enormes. Em um movimento fantástico, tomou o caçador com apenas uma das mãos e o levantou do chão de encontro a árvore mais próxima.
-Eu disse que ela estava comigo, e não perto. Ela vive em mim. Teríamos deixado você ir, se desistisse da raposa, mas você preferiu nos ver.- Disse a menina demônio com uma voz vinda diretamente do inferno, enquanto o sustentava com uma das mãos, e apontava com a outra em seu rosto. Sua mão era agora um conjunto de garras e ossos maior que qualquer coisa que ele já tivesse caçado.
 Sentindo o ar faltar e apavorado, desmaiou. A menina se abaixou sobre seu corpo , inerte mais ainda com  vida e desferiu um golpe com as garras no pescoço e outro no abdome, para que parecesse um ataque de urso, e bebeu a maior parte do sangue do caçador, deixando-o para morrer em seguida.
 Coberta de sangue, tomou a raposinha nos braços e foi andando pela floresta escura.





























































































































Continua.

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