sábado, 4 de março de 2017

Cru

Calor do infernos na Alameda São Boaventura.
O dia começou muito ruim pra quem não tá acostumado com a rotina de pessoas como nós.
Mas insistimos em fazer arte, com tosse, pigarro da mesma amada alameda cheia de árvores , embora não tanto quanto era antes , e assim sempre...
Minha esposa vê um filme em inglês com legendas em português, e para aprender melhor o inglês desliga o ventilador.
Mas insistimos em fazer arte , pois temos a ânsia da criação em nossos ventres insaciáveis, então tomamos nosso instrumento de ofício (um deles), e sopramos.
Aos que não sabem , eu toco saxofone, e é uma das coisas que tenho de melhor para oferecer , restando apenas rabiscos em cores, e nesta literatura virtual que vêem.
Pois aos primeiros sons, óbvio, interrompo a aula de cinema-inglês-português e paranormalidade, pois é o tema do filme. Minha esposa é atéia e cética, mas gosta de entender os enredos das coisas, e admiro muito isso nela.
Ela reclama "Mah , dai..."
E então pego o sax e levo para o jardim. é uma floricultura, e tem motos na frente. São 20:30 da noite . Perfeito.
Sento-me. Apóio o cigarro ao lado. E toco o tema de Blade Runer, baixinho. São umas três notas, o começo, bem lentinho. Emoção pura. É o que eu tô tentando sentir e expressar ao mesmo tempo, e é tão baixo que um suspiro extinguiria, e mesmo assim , sinto vontade de continuar tocando. Tá bom. É melhor que falar e funciona melhor pra sentir as respostas da vida também.
Mas vem a vizinha da janela e diz. "Poxa , na hora do meu Jornal , não né meu amigo." E assim no grito, cala a arte da Alameda São Boaventura por alguns segundos.
Eu paro, penso na utilidade da Arte que Eu Faço , e no Jornal Nacional. E penso:
-Empatou.
 Mas, como não sou apenas saxofonista, a arte não pára na Alameda São Boaventura.
Volto e escrevo essa crônica, e sigo sendo apenas uma personagem comum da mesma via. QUE NÃO GANHA HISTÓRIAS NO GRITO. Embora já tenha tentado muito dessa maneira, também.
 E trago junto a vizinha amiga que não é musicista, mas agora que entrou na história, se torna também personagem imortal. Um fone? Uma Tv melhor/ Fechar a janela, mas tá calor né... Ar tá caro. Vai tocar dentro de casa. Vai escrever. Arte pra que, né...
 Nessas minhas humildes linhas de literatura virtual.
O que eu queria é tocar sem incomodar o jornal de ninguém. Mas as vezes você precisa fazer em silêncio o que estava fazendo com os lábios , a respiração, e tudo mais. Escrevo.
 Estou de folga mesmo. Nem devia ter tocado.
Deveria estar só escrevendo, e personagens melhores...
 Menos cru.

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