sábado, 21 de outubro de 2017

Logo ali.

-Vem  vamos passear por  aqueles prédios velhos.
-Ainda estão abertos?Parece tudo tão quieto.
-É feriado, ninguém está entrando ou saindo. Acho que podemos passear por lá. A maioria dos prédios fica vazia a maior parte do tempo.
Caminhamos de mãos dadas, algo me pesa nas mãos, como que aumentando o silêncio quando passamos pelas esquinas. As quadras são enormes, e penso em quantas pessoas poderiam estar morando ali ao mesmo tempo. No porquê de tantos prédios vazios.
Alguém passa gritando por nós, mas para ela é como se não fosse ninguém. Ele lê meus pensamentos, meus desejos secretos e vontades satisfeitas. Grita qualquer coisa em uma língua totalmente fundida com o ambiente e meu próprio idioma:
-A festa é mais tarde.  Não temos sequer haxixe. Vá fumar isso mais pra lá...
Paramos em frente a um monumento , é sobre um acontecimento importante. Pessoas que falavam a verdade, aumentavam o orgulho dos nativos contra os exploradores. Mas está no tempo errado, então não vemos sua glória, nem mesmo sua mensagem mais forte. Nos vamos.
A reunião da noite ficou perdida no tempo. O porque estávamos tão bem vestidos. Que energia nos havia levado de volta a frente daqueles prédios, agora fechados e com menos luz pelo lado de fora dos seus muros. Caminhamos por onde havia o vazio, e suas fundações estão agora expostas, os portais formados pelos caminhos do futuro, ainda não encobertos pela tecnologia e a força bruta, nos servem como caminho improvável ao desconhecido. Nos encostamos numa parede, tudo parece como uma teia de renda negra e cortinas de veludo cor de vinho que exalam o perfume das noites primaveris. O peso que eu tinha nas mãos está agora em qualquer lugar no solo. E nós estamos bebendo. Passamos o cálice. Da minhas mãos para as dela, das suas para as minhas.
Seus cabelos com o vento vem até minha boca. Puxo um deles com os dentes. São tão grossos, tão naturais. Seu sorriso invade meu olhar e minha mente. Nada mais importa naquele momento, mas fazê-la continuar sorrindo. Fico olhando para seus cabelos como um idiota, enquanto ela se levanta de onde estávamos recostados, e meio assentada arruma suas roupas e rendas. Queremos permanecer ali para sempre. Mas estamos do lado de fora. E está tudo fechado. Por causa da hora , sentimos aquele medo tão comum. O medo de não poder entrar. O medo que que alguém saia gritando e não tenhamos como compreender sua jornada. Será que correríamos em sua direção, para ajudar ? Ou na direção contrária , para nos salvar da sua visão, meramente? A escuridão finalmente nos toma e ouvimos o assovio, o grito, o silêncio, ouvimos os passos  e alguém que grita com autoridade. Tememos, mas enfrentando o perigo, pego o peso que estava no chão, e corremos rindo e gritando vivas e maldições, agora sobre nossos fortes e jovens pés descalços, ou calçados. Rimos do perigo e da morte. Da política e da fé. Rimos.
AHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHahAHaha! -Rimos em dueto.
Nos abraçamos e continuamos nossa própria jornada rumo ao amanhecer solitário. Sabemos que o tempo nos separará, mas não sabemos quando ou quanto. Apenas damos as mão e continuamos sorrindo. Sorrindo e chorando, pela cidade ao redor.
Fim.

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