quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Quando atrasa.

Quando o tempo se atrasa,
                para que não o veja,
Eu sempre vou até aquele pé de cereja.
Longe na minha cabeça
Único lugar onde cabe todo mundo.
Meu coração tão cheio de amor a tudo.
Que eu fiquei de fora e caí no meu próprio fígado e baço.
Os pés que para lugar nenhum caminham.
Sim, eu sei que já me confessei sobre isso.
Reclamando do brilho dourado da minha pele.
E do azul precoce dos meus olhos.
(É para esconder o ouro banhado a prata.
(E sim eu sei que isso já veio ao contrário)
Colher de prata não adianta ser banho.
Mas surpreende quando é de alumínio e platina.
Viu? Passou de novo.
Onde terá ido parar aquele socador do pilão de bronze?
E meu anel? Onde coloquei meu anel?
O relógio? A caneta tinteiro?
Isso! Tudo está perdendo a utilidade.
Há melhores escultores, agora.
Imprimem, em três dimensões, perfeiçoes horríveis.
Terríveis verdades para todos.
A obsolescência da pena.
O descaber da palavra.
A falência do segredo, escondido na música que se repete.
Nada mais é senão jabá.
A carne de cavalo seca e salgada,
 Para prevenir a fome dos sem coração.
Você vai comer isso?
Você não era vegano sexual?
Minhas unhas.
Minhas unhas nunca estariam tão feias, listradas...
Meus dedos nunca estariam assim,
Tão magros, e com calos sobre os calos.
E o tempo, que não passa.
Ainda por cima, aumentado de uma hora.
E essa hora?
5:11 horas de dez , de dezoito.
 (Mês invertido. E o ano não digo agora, por convenção anti-convenção. Nasci ás 18:30, foi o que disseram.)
Se o tempo do mundo dos sonhos é inicialmente metade do tempo acordado, e progressivamente se desacelera enquanto nos encaminhamos para camadas internas do mesmo.
 Estarei eu flutuando, sem me mover, em um lugar onde tudo parou?
Como será que está o tempo lá fora?
 Não , vocês não querem saber como está o tempo aqui dentro.
 Como é longa e inútil, a espera.
 Como é quente, neste frio sem sentido.
Nessa estrela morta para ser mais que duas.
 Esse gelo mármore, liso de se patinar
                             e onde nada se move , muito, mais lentamente, que tudo que você possa imaginar.
 E passa aquele rapaz gargalhando tão alto, com todos o levando sobre os ombros.
 Ele acha que está voando sobre eles, ou que está voando sozinho,
 Mas, ele olha para o alto e se vê entrar na janela do prédio vizinho, puxado por um fio de cabelo dourado.
 Como é possível? Ele errou de prédio? De entrada?
 Será que fui eu quem errei, e também todos estes que gritam meu júbilo?
 Não. Tudo está no seu lugar.
 Os dois castelos são meus.
 Apenas, que estou em dois lugares,
 E vejo que em um dos lados as sombras são mais escuras.
 As janelas continuam sendo de onde vem a luz mais forte.
 E tem a mesma cor dos dois lados.
 Transparente, como a verdade.
 Foi tudo consumado num tempo sem tempo.
Por isso, tudo tão lento.
Parado.
Engarrafado.
Devagar demais.
Aí.

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