sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Dedoches

Um estranho homem se aproxima de uma mesa de restaurante. Traz os dedos como um símbolo de paz, um sorriso misterioso nos lábios e roupas que parecem de outra época. Poderia ser descrito como um hippie pós moderno, com elementos de cultura hipe, um chapéu muito velho e alguns pelos no rosto maquiado. Em cada dedo, tem um pequeno fantoche fanstasiado como ele mesmo, uma pessoa normal que apenas não combina as roupas como as pessoas da mesa.
-Boa noite -diz o ambulate- posso lhes mostrar o meu artezanato?
-È né, agora já mostrou- responde um senhor que não quer comprar, mas que sabe que vai acabar pagando.
-Que linda- Diz uma senhora sorridente com uma criança no colo, a criança já estentendo a mão para o boneco.-È você que faz? -pegando uma e dando para a criança.
-Não minha senhora, é feito pelas freiras cegas, surdas e manetas de Caucutá.- diz o senhor cabeludo. - Esta Émília é feita por uma freira chamada Emília, e essa Viscondia- diz colocando outra boneca com chapéu no dedo que agora estava nu- foi feita por uma irmã chamada Viscondia.
Todos da mesa riem, a criança ri também, mesmo sem entender.
-Tem mais alguma criação exclusiva, senhor?- Pergunta o senhor já imaginando que cada um vai querer uma. Outras duas crianças já estendem as mãos sobre a mesa.
Pega mais dois dedoches na mão do vendedor e agora repara que ao levar os novos dedoches aos dedos nus, o homem traz uma luva fina  na mão esquerda, e que há uma caixa no chão de onde ele habilidosamente retira os dedoches de um pequeno teatro, a mão que os apanha quase não se move .
 -Mas olha, é um artista de fato, veja sua caixa como parece um teatro!
E assim, com um movimento, surge no canto da mesa um teatro de veludo vermelho com uma mão no centro do palco e um dedoche em cada dedo, e outros deitados  no chão do palco.
-Quanto custam?
-Cinco, cada um- Responde o estranho hippie com o mesmo sorriso enigmático.
O senhor paga os três dedoches enquanto a criança pergunta ao hippie:
-Do que o senhor está fantasiado?
Imaginando que seja por causa da maquiagem, ele diz;
-Sou um zoombie! Buuuu!
A criança e os adultos riem, mas as crianças riem mais.
-O senhor não é tão feio para ser um zoombie!
É que eu fui mordido hoje de manhã... Diz mostrando pra criança uma tatuagem de um mordida humana não mão direita. todos continuam rindo. As crianças, sempre mais.
Uma das pessoas não se contém e fala sobre o teatro, pareciam evitar até olhar naquela direção.
-A escultura  é impressionante! Realista! Podia jurar que se mexeu!
-Eu já ganhei algum dinheiro com esculturas grandes, mas é difícil fazer uma exposição, dedoches são mais rápidos. Esculpir os rostos e fazer roupaz com retalhos. Garante o mês e diverte as pessoas. -falou o artesão, sempre calmo, como se esculpisse a realidade. As pessoas não pagam tão facilmente por esculturas grandes e realistas.
 Realmente, as crianças estavam brincando com os dedoches como se aquele lindo e estranho teatro nem estivesse ali.
Tentou devolver os cinco de troco, mas o homem da mesa disse pra ficar. Tentou pedir que ele se juntasse a mesa, mas estava realmente desejando vender mais naquela noite.
Obrigado, disse o homem sorridente. E foi se afastando, com o teatro pendurado no braço, e a mão que estava sempre na mesma posição, como se fosse pegar algo no ar, ou como se estivesse segurando dedoches invisíveis o tempo inteiro.
-Aquela mão me deu arrepios! -Disse o homem da cabeceira oposta.
-Ele venderia mais sem ela- disse uma senhora mastigando uma pizza.
-O zoombie! O zoombie!- Brincavam as crianças com os fantoches.
-Eu gostei- disse rindo o homem que pagou- Nem sei porque não perguntei o preço do teatro de uma vez...
E nesse momento o vendedor ambulante olhou por cima do ombro e sorriu. Desaparecendo na névoa que estranhamente se formara um pouco antes dele chegar.
                                                    Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário