quinta-feira, 9 de junho de 2016

O homem , O computador e A barata.

O clima estava abafado e o rádio dava notícia de que aquele seria o dia mais quente do ano. O ventilador estava com defeito e rodava cada vez com menos velocidade e mais ruído.
 O apartamento pequeno não ajudava a dissipar o aquecimento global. Enquanto olhava a colina gramada na tela do seu computador, Lisandro, nosso herói, vê uma barata passar sobre a tela de cristal líquido, pequena e frágil. Esquecendo-se do sonho verde, estende rapidamente a mão e toma a lata de inseticida, molhando as asas transparentes do pequeno inseto, que corre e desaparece atrás da mesa.
 Sentindo o cheiro do inseticida, eucaliptoso, e sabendo que não teria como competira com aquilo, ele recosta a cabeça no computador, que após alguns segundos faz um ruído estranho.
Ao levantar a  cabeça e olhar novamente a tela, vê uma mensagem, abre e descobre que foi selecionado pela NASA para viajar, provavelmente sem volta, para marte.
 Deu um pulo para trás derrubando a cadeira com um grito:
-Mundofeliz!!! E viva!!! Vou para marte! Esse planeta que fique com as baratas!!! AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!
Mundofeliz era uma expressão que aprendera na internet, através do mesmo personagem que o inspirou a se tornar um astronauta de verdade, O Don Astronauta Ben Caetano, que era um cara engraçado que dizia que a Terra podia ser um Mundofeliz, mas nisso Lisandro não acreditava, preferindo ficar só com a expressão de alegria e deixar a Terra para as baratas mesmo.
-Esse lugar não tem jeito. - Dizia- o Astronauta é maluco... (e aparentemente , estava certo)
Preferiu olhar além e buscar uma solução fora do planeta, para se livrar daqueles insetos que achava tão asquerosos. Decidiu ser um astronauta de verdade. Quem sabe na volta conseguiria fazer o que o Don Astronauta tentava fazer na Terra, talvez no futuro houvesse alguma chance, após voltar do além-Terra.
 Despediu-se de todos e fazendo as malas rumou para o aeroporto.
 A recepção foi muito tranquila, apesar da ansiedade de todos os selecionados. Era homens e mulheres, de todas as orientações sexuais e de gênero, e também de todas as etnias que se voluntariaram pelo mundo afora.
O treinamento era breve, e os cadetes estavam tão interessados e comprometidos que rapidamente se graduaram, e recebendo seus brevês tomaram assento na espaçonave interplanetária.
 Tudo estava indo muito bem, e a decolagem decorria perfeitamente. chegando ao limite da estratosfera e o momento da separação da nave dos tanque de combustível da partida, o veículo agora ultrapassava a linha imaginária entre o azul e o negro espacial. A lua estava em outra direção, para não complicar a passagem , e após algum tempo, a nave colocou todos em animação suspensa, e se preparou para a viajem mais longa já feita pelo homem.
 Mas neste momento , algo inesperado , incontrolável e imprevisível aconteceu. O sol cuspiu uma flâmula. Um filamento de plasma incandescente que que foi atenuado pelos planetas e pela lua que estavam do outro lado, polpando a Terra de maiores danos. Mas que em seu caminho eletromagnético, provocou uma anomalia espacial, além da linha da Terra, e antes de marte. Talvez os campos gravitacional de Júpiter e saturno, tenham tido um curto circuito, e o tecido enrolado do espaço atraiu a outra ponta, fazendo um  funil, um buraco de minhoca. E a nave simplesmente sumiu dentro dele, sugada como um espaguete, esticada como uma linha, deixando todos na Terra totalmente perplexos olhando a tela.
O computador da nave possuía uma inteligência artificial, que ao sair do buraco de minhoca, mapeou o setor espacial em que estava, descobrindo que estava localizado do outro lado do universo. Por um daqueles lances inesperados, estavam bem perto de um planeta muito semelhante à Terra, então a escolha lógica da nave foi rumar para lá, e enviar uma sonda satélite de volta para o setor do sistema solar, e alocar os humanos da nave em segurança, já que não haveria provisões para uma viagem tão longa, e o satélite possuía alimentação da bateria pela luz de estrelas próximas.
 O satélite também estava dotado de uma inteligência artificial, e assim, enquanto se encaminhava de volta ao seu sistema natal, estava preparado para coletar informações de onde passava, desdobrando nanotecnologia em seu interior, se modificava , ampliando estabilizadores e moldando sua forma interna e externa para melhor se adaptar a velocidade, e buscar maneiras de aproveitar ventos estelares, bolsões de gases liquefeitos , e a diferença de densidade dos ambiente para otimizar seu percurso.
 A inteligência artificial então criou um segunda inteligência em seu interior para fazer checagens constantes. E a comunicação interna entre essas duas inteligências criou uma segunda linguagem , que somente elas compreendiam, e assim se ouvissem uma comunicação que não fosse aquela, sabiam que estavam perto de outra inteligência. E assim gravou e aprendeu milhares de idiomas de mundos distantes, que não visitou, pois sua missão era seguir em direção a terra, e mais alguma coisa que esquecera no caminho.
 Sim, por uma falha nas prioridades dos algorítimos, algumas informações fundamentais acabaram sendo consideradas excesso de memória, e apagadas. Por causa da relevância da comunicação e conhecimento adquiridos, muitos dos conceitos humanos foram apagados , por terem sido encontrados conceitos melhores , em comunicações captadas, tornando os conceitos humanos obsoletos em eficiência, e assim descartados pela máquina inteligente. O conceito de beleza, foi um deles, e também , ao fim, o conceito de aparência humana, pois a progressões dos algoritmos de tempo e evolução de espécie, indicavam que o ser humano poderia ter assumido qualquer forma híbrida entre as espécies locais que quisesse, para sobreviver e se adaptar ao meio ambiente, e assim, a inteligência artificial dual do satélite de resgate, chegou ao consenso de que não era possível prever a aparência do ser humano ao retornar ao planeta original.
Continua...

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