terça-feira, 26 de julho de 2016

A infância e a água preta.

A infância não volta mais.
Aquela infância de brincar com argila.
Mas onde colher argila, e onde moldar a lama.
 Na água preta de Curuputuba,
 Perto da fábrica de papel.
O papel sai branquinho e a água preta.
A argila fica diferente,
 Já é colhida meio quente.
O sol levanta o cheiro da água preta.
"Que fedor!"
"Menino! Essa água não pode se molhar!"
Moldar a argila da margem da água preta.
 Fazer animais simples.
Cobras enfeitadas de flores.
Aves que saibam nadar.
Adoecer de saudades da água preta.
Morrer a cada lembrança da febre e da dor.
Aquela água preta era mortal,
Uma armadilha do destino para o menino.
Uma música de terror noturno infantil.
Segredos de infância compreendidos.
Alguns traídos, outros guardados.
Os que foram inocentes perdoados.
Os que estavam além da margem , apagados.
O que havia além da margem da água preta?
Porque não havia nenhuma flor por  lá?
E porque nunca fomos á fábrica de papel?
Papel pra quê, menino?
Papel nos davam na escola.
E nos obrigavam a desenhar retas.
No rio de Curuputuba tinha água preta.
Parecida com aquela que eu nunca vi. Na Lagoa do Abaeté.
Dizem que é preta, e que foi de lá que eu vim.
A água preta da minha infância.
 Água de Curuputuba.

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