quarta-feira, 27 de julho de 2016

TANTOS LUGARES

Um dia perguntaram para um viajante porque ele tinha ido a tantos lugares e não tentara se estabelecer em nenhum.
-Eu sentia um amor que vinha do chão, da água que me davam, da comida que eu conseguia, das plantas, da música e até mesmo do sereno da noite e das estrelas quando dormia ao relento.- disse o andarilho.
 -Achava que esse amor vinha das pessoas desses lugares , então caminhava sorrindo e devolvendo o amor que recebia entre elas.
- Mas como eu estava enganado, as pessoas reagiam de forma estranha.
 -Elas sabiam que o amor era do lugar, mas eu não. Já que eu não sabia que as pessoas não amavam aquele tanto, e para mim era normal amar a tudo e a todos.
 -Eu agradecia a elas, mas não ao lugar, apesar de amar a ambos, e quando ia embora, elas não sentiam minha falta, mas o lugar sim. As pessoas me esqueciam , mas o lugar ficava me chamando. Quando eu voltava, já não me tratavam da mesma forma. Achavam que eu sabia e não tinha agradecido o lugar de propósito. Se ressentiam e queriam que eu me fosse logo, para que o lugar não ficasse chamando depois.
- Eu não os entendia, e eles me julgavam além do meu conhecimento, pelo amor que eu manifestava pelas pessoas, e também pelo amor que eu despertava no lugar. Com o tempo , mesmo com todo meu amor, não podia voltar mais lá.
-E assim deixei muitos lugares com saudade, e muitas pessoas que amei para trás.
Onde os olhares se perdem, não se pode mais encontrar os rastros, e assim segue-se em frente , novamente. Afinal, ainda a tantos lugares para ir, agora que eu sei que os lugares me amarão, e como lhes agradecer, não posso deixá-los esperando, nem me estabelecer definitivamente em lugar nenhum.
 E aquele que perguntou ficou assim satisfeito.

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