segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Onde está o Michael das ruas ?

Eu me lembro de andar pelas ruas como quem não quer nada. Ia ao supletivo em Niterói , mas não queria uma maneira fácil para estudar. Não queria nada, e isso era muito estranho. Parecia feliz e isso era assustador, e olhava para as pessoas que vendiam ervas e coisas assim , mesmo sem querer comprar nada do que vendiam.
Eu andava nas ruas com os meninos de rua, sendo filho de professores, pastores e doutores, neto de alfaiates e costureiras e comerciantes. Eu caminhava nos trilhos do trem me equilibrando e também contando os dormentes e correndo, e me banhando no rio sob os trilhos. Quebrava as pedras da linha nos trilhos de noite e com o pó fazia cerol de pipa, pra de dia .
 Mas todas as pipas em Pindamonhangaba tinham rabiolas, apenas em São Gonçalo haviam pipas sem rabiola,
Meu pai sabia fazer uma pipa com rabiola , mas não funcionava bem pois não dibicava e nem virava pra onde a gente queria , mesmo que colocasse mais rabiola. Era uma mistura de arraia com cortadeira e meu pai chamava aquilo de Maranhão. Devia ser o nome daquilo no paraná, onde nasceu. E eu gostava de fumar no telhado , era parecido, mas não era igual soltar pipa pois ninguém controla a fumaça como faz com o papel. Também observei isso.
 Eu me lembro do cara que era fã do Michael Jackson e que havia passado um clareador no rosto, ou algo improvisado para o fazer parecer mais branco, e usava chapéu e peruca , como seu ídolo, mas não queria ser famoso. Ele apenas queria ser igual ao Michael, e por isso possuía aquelas horríveis cicatrizes de queimadura no rosto e o chapéu de isopor fino na cabeça, andava descalço , ou de chinelos no centro de Niterói. Também era estranho que gostasse tanto daquela cidade , mesmo estando sujo e descalço e com um chapéu tão barato na cabeça. Aquele cara parecia um alien. Gostaria de saber o nome dele, ou o que aconteceu com ele, mas aqui tem muita gente assim, trabalhando na rua e sentando no chão, ou em pé vendendo nas banquinhas. Tinha também algumas pessoas que vendiam com cestinhas , mas esses não tenho visto mais, os bombons vieram antes da bonequinhas, e o os lápis, esses era vendidos nas mãos como rosas, mas são todos ecos do cara do amendoim salgados que carregava o próprio forninho, muito tempo antes da empada e da pizza  de carrinho.
 Mas eu olhava seus olhos quando passava segurando a mão da minha mãe, e não havia nele o talento que o tornaria um MJ. Pois ele tinha o olhar de criança de quem nunca havia conhecido nada além daquele lugar perto das ervas, na calçada. Ele era bonito de olhar, assustador de olhar. E vendia ervas. Mas nunca soube nada dele, só que parecia estar no lugar errado, ou muito longe de casa. E que deveria ter sido melhor cuidado na mente pra não querer ser igual a famosos a ponto de se machucar, e sumiu. Como acontece com muitos ambulantes. Eles andam...

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