sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O minhocão

 Antes do trem- fantasma, antes do carrinho bate-bate, antes da montanha russa, antes do túnel do amor e até mesmo antes do pula-pula inflável, todos passam inexoravelmente pelo minhocão.
 O minhocão, que não é uma minhoca , mas uma lagarta, gira sobre um monotrilho, que é uma minhoca fria, assexuada e desenhada em onda, produzindo assim o próprio movimento minhocante do minhocão-lagarta, de quem ninguém sabe de qual fruta gosta. Pois seria necessário conhecer a borboleta para tal.
 Abaixo da minhoca fria e monocromática, não raro estará o substrato natural. Que seja a velha grama, onde não se deve pisar (e quem não souber ler, pergunte ao guarda). E abaixo dela as verdadeiras minhocas, hermafroditas e desprovidas de genitais diferenciáveis.
 Enquanto o minhocão faz a minhoca fria chiar, às vezes cm algumas faíscas, correndo em uma só direção sobre o que não se move só.
 Minhocas vem e vão se esticando da cabeça à cauda e voltando, em si mesmas. Perfurando a terra, aerando o solo, e exercitando constantemente seus ventre cilíndrico e quase pélvico, no sentido das suas contrações.
 Indo e vindo, por dentro e por fora, se encontram, e então minhocam lentamente lateralmente ou umas sobre as outras. O que não faz muita diferença já que seu peso é atenuado por estarem envoltas no substrato, e poderem, inclusive nem se lembrar de quem ficou por cima , no inicio ou no fim.
 È aquela minhocagem inocente, sem muito prazer, pra gente, assim pra trás e pra frente, a minhoca , sem pelo e sem dente. Não ri, não geme, mas sente e faz.
  Sentidos e sensações urgentes de se multiplicar. Mais minhoquinhas hermafroditas, que minhocarão desde cedo.
 Sem nunca se julgarem ou se verem, que lá embaixo ninguém se enxerga e nem precisa. Boca não tem dente e ânus não tem tamanho.
Minhocam, as minhocas. Minhocou?
E nem se lembram que lá em cima, outras minhocas tecnológicas ostentam apêndices ósseos, e  gritam cheias dos pedações dos seus iguais em seus estômagos complexos. Com sacos de pipocas nas mãos. E maçãs do amor.
 "Como eu queria uma maçã do amor inteira!"- pensaria uma minhoca, não minhoca, mas bicho da maçã.. Provavelmente uma borboleta, ou mariposa, até.
 E em suas extremidades hábeis constroem, as minhocas digitais, algumas delas, minhocas metálicas frias, portadoras dos minhocões iniciáticos dos parques divertidíssimos. Introdutores da adrenalina findi-semanática primordial nas crianças inocentes, com seus pais entediados, mas sorridentes, felizes, enquanto se esquecem que estão sentados num minhocão, quando queriam continuar eternamente nas montanhas russas, nos trens fantasmas, nos túneis do amor , e até do carrinho bate-bate. E até mesmo na fila do bate-bate!
 (Auto-pista! Puxa!  Esse era o nome. E com eletricidade em cima e em baixo! ahahahahahahahahahahaha! Que perigo! Se bem que nunca vi ninguém tomar um choque naquela gaiola. )   
Enfim, alguém se lembra de quando andou pela primeira vez num minhocão?
Ou sabe a diferença entre o anus e a boca de uma minhoca?
Pipocas.
Comam terra, ou mexam em seus celulares.
Estamos minhocando.
Lumbricinando.
Weeeeeeeeeeeeee!
Desde então, e para sempre.
Amém.                                       

















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