Quando você me confunde com minhas doenças
e até parasitas
Confundo nós com laços
Confundo você com eles
Confundo esperança com suicídio
Vida com presídio
Cio com vazio
Cedo com medo
Licença
Vou ali olha para onde apontava seu dedo
Não
Com isso nem me pareço
Esqueça
Esse é meu mal
Não eu
Aqui essa pessoa nunca existiu
Isso é imagem de uma crise
Uma dor
Que você deveria
Mas não sentiu
O grito
Diferente do mito
É sintoma
De coração e cabeça
Sem freio
Não sabia?
Não foi para isso que afinal veio?
Por que o desamparo?
Não foi tudo explicado antes?
Limpo e claro?
Papel e testemunha
A fama e a alcunha
Dizia em letras grandes
POBRE E DOENTE PARA CUIDAR, INTELIGENTE E BONITO.
FORA ISSO , ÓTIMA PESSOA.
Não era a pessoa que importava?
Não enfrentou-se até o dragão?
E agora que tens o reino, o poder e a glória,
a princesa envelhecida e pesada quer jogar fora?
Não sabichão
Não desapareça
Não me largue como um velho e preterido trono
a quem por um reino melhor e mais verde,
Deixou no abandono
Mataste um dragão
E tomaste para si um reino
Isso é sem dúvida.
Mas de aviso de ante-mão
Não importa o que aconteça
Se encontra-se esta princesa
Por aí pela rua,
Talvez abusada, embriagada e semi nua
Responderás aos magistrados
Do povo serás odiado
E te lembrarás do preço e do contrato
E de quando trouxe todo teu aparato
para esta região
E terás pra sempre a pergunta
no interior do crânio
como uma dobradiça que range atacada numa porta:
Não era melhor o dragão?
Desprezei injustamente uma princesa?
Pisei em um coração
E agora , será que está morta?
Confundi um doente com sua doença
E lhe impus essa crença
que viver doente é ser vão
Por que, ó raios, não o tratei como doente
pensando que era outro sabichão?
Porque é que vim de tão longe para tratar mal um louco monge?
E no fim terás a resposta vinda do seu coração
Só me lembro que ele me amava
Em crise ou não
Nada restando de um mito.
Com choro, tremor e grito
Gritava SOCORRO, e não maldição
Me oferecia perdão, conforto, carinho e sexo.
Não me confundia com minha aflição
Exceto que eu, eu meio a não querer ver
O confundia com sua crise sem nexo
Sim , hás admitir;
Tudo estava a posto
O louco, louco, e o sábio, sumia
Como era do meu gosto
(e só eu não percebia)
Ele era minha mãe e meu pai,
meu filho e meu esposo.
"Era feliz e não sabia?"
-Sim,
"Fui eu que fiz a confusão?"
Fim
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