sábado, 30 de janeiro de 2010

Duas ou três veses mais

Ning era um rei poderosíssimo e todos conheciam a fonte de seu poder. Vinha de um amor singular. Um amor que de tanto amar a quem quer que visse, concedia a tal pessoa qualquer desejo que fizesse.
Onde isso o fortalecia? Ora, tudo o que fosse concedido por ele voltava para ele duas ou três veses mais.
Tinha ao seu redor pessoas felizes, pois todos tinham o que queriam.
Um dia o rei Ning encontrou um bebê abandonado. Esse bebê era de uma terra distante, onde os bebês choravam desde o nascer, porque já nasciam sem acreditar em desejos, e seus pais, por serem também descrentes, não visitavam o reinado de Ning, para ter desejos atendidos. Era um lugar triste, onde tudo dava muito trabalho pra ser conseguido, e nada vinha de graça.
Ao encontrar o bebê o rei levou-o para casa para que ele fosse cuidado pelos melhores educadores do reino. Se bem que eles sempre diziam:
-esse menino é de fora , não sabe desejar. Sim , porque no reino de Ning era muito importante saber desejar, o desejo sempre se realizava então o perigo era se arrepender.
Logo na mudança da primeira idade, Algen, agora de longe o preferido do rei em todo o reino, teve sua primeira crise de fé e sem surpreender a maioria, passou a negar que obtivesse qualquer coisa por desejos ao rei. Este mesmo desgostoso com o fato, o manteve sob sua proteção, desejando que um dia ele se arrependesse.
Algen tinha muito sucesso em tudo que fazia, mas todo o crédito ia para o rei Ning, ficava apenas com o crédito de ter sorte, por ficar tão perto do rei. Isso deixava-o enfurecido.
Passou então a procurar uma resposta racional para todos os seus sucessos. Mas só encontrava razão para o que conseguia longe do rei.; Um dia Algen ficou muito perturbado por tentar, sem conseguir, encontrar uma explicação, para o como obtivera sucesso em algumas áreas de sua vida. Não aceitava que foi apenas por desejar, queria ter o mérito de todos os seus sucessos. Quis então tirar a prova derradeira dos poderes do rei, pensou uma dor horrível para si mesmo, uma dor de morte, pois assim se fosse verdade , como uma vingança por roubar-lhe o mérito de seu sucesso, o rei sentiria uma dor maior ainda e foi na direção do rei.
Ao chegar perto e ser visto, disse de sopetão o que viera fazer, parecia que sinalizando sua crença inconsciênte em que aquilo ia doer, e começou mesmo a sentir uma dor fortíssima no peito e no braço esquerdo.
Gritou então ao pai, dizendo que agora acreditava e que se arrependia, pois sabia que o rei também sentiria um dor ainda maior,e que morreria logo em seguida.
Enquanto segurava seu predileto nos braços , Ning deixou um papel cair no chão,e percebendo que Algen sentia a dor da morte, disse:
-Algen você será sempre meu preferido, mesmo sabendo que vai morrer, sou grato por ao menos lhe ver compreender e crer nos desejos. Não posso salvá-lo da morte, pois foi você que desejou-a, mas peço que deseje a felicidade eterna, pois não é preciso estar vivo para ser feliz.
E ele assim o fez, não entendendo ainda por que o rei não estava sequer passando mal, passou a mão pelo chão e encontrou o papel, ergueu o papel à altura dos olhos e viu o que estava escrito. Era uma certidão de adoção, o rei o havia adotado.
Expressou então um olhar de compreensão, que era quase um sorriso, e em meio a tanta dor expirou.
Seu pai, deu um grito horrivel e chorou amargamente. Mas não morreu, continuou realizando desejos, no mesmo reino.
O que então Algen teria compreendido naquele último momento?
Ele percebeu o tamanho do amor do rei por ele, e ficou feliz de saber que o rei não morreria. Pois nem mesmo a dor da morte em arrependimento, sequer pode ser comparada com a dor, mesmo em meio a gratidão, da perda de um filho.
FIM

Um comentário:

  1. É verdade as vezes não sabemos como desejar; porque Amor- Verdade e Alegria não importa quando ou como acontece, é um sentir dos desejos que aflora até mesmo a essência mais profunda de nós mesmos. bjs.

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