terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O céu dos que não se importam

  A fila era quilométrica, nem dava pra ver o fim olhando pra trás. Estava pensando como teria chegado ali , quando alguém lhe avisou que era sua vez.
  Entrou então num lugar aparentemente desorganizado, apesar de limpo. Uma senhora, que dava pra ver que era muito respeitada, ficava recebendo as pessoas que chegavam. Fazia uma avaliação da pessoa simplesmente olhnado pra ela e dizia o que ela faria lá, dando -lhe um objeto dos que tinha em sua prateleira.
  Deu a ele uma máscara de ouro reluzente que cobria apenas os olhos, com um antebraço e uma mão que saia do lado da mesma, 
e sem saber pra que servia aquela máscara ele simplesmente deixou aquela sala.
  Ao sair já estava em outro lugar. A fila simplesmente sumiu e ele viu que mesmo tendo saido da sala , estava agora dentro, mas de um modo estranho estava na rua. Percebeu então que estava dentro de um outro mundo, e esse mundo era mto diferente do que conhecia. 
  Tinha um homem andando do seu lado e falando sem parar, estava muito empolgado e parecia ter esperado muito tempo para entrar ali. O homem perguntou então quanto ele ia ganhar.
  Ele humilde disse
   - sei lá? Dois mil tá bom.
   E o outro :
    -Só isso? Eu vou ganhar uns cinco!
   Pararam em frente a uma janela de vidro, dentro dela havia uma moça que teclava num laptop em sua cama. Estava semi-nua e rindo muito. Seja lá com quem falava, não tinha a menor intenção de parar.
   -Quanto ela ganha?- Perguntou o meu amigo.
   -Pouco- disse o outro.-Mas ela só queria sair de onde estava, pra ela esse quarto só dela e o laptop já seriam tudo, e ela ganhou uma casa inteira.
   Percebeu que ali o que importava não era se era muito ou pouco para os outros. Todos ganhavam o quanto queriam e faziam o que queriam.
   Olhou para a rua e reparou que não havia ninguém ali. Tinha muitas casas, mas ninguém nas ruas.
   Reparou em uma casa que tinha cães na frente. suas gargantas cortadas, deixavam ver carnes penduradas,
mas eles continuavam latindo sem morrer. A casa parecia medieval com torres e vitrais.
   -O pessoal que mais ganha é o que faz sangue falso.-Interrompeu o outro.
   Novamente sem saber como, foi transportado para uma rua larga e muito movimentada. Andava no meio dos carros e não tinha medo, via os ônibus passar bem perto, jogando água barrenta pra todo lado.
de repente pegou um pelo para-choque, mas não caiu, deslizou, e enquanto deslizavaolhou para baixo viu que seus pés não estavam sobre lama, aquilo era sangueum verdadeiro rio de sangue. 
   Ficou pensando se era de verdade ou era o tal sangue falso. Se fosse, estaria explicado porque eles ganhavam mais que todos os outros. Aquilo estava por toda parte daquela rua.
   Começou a ficar enjoado e quiz ir pra casa. E de novo num flash estava na rua deserta. Viu um cachorro se aproximar e se abaixou para o cumprimentar. E viu que este estava sem focinho. Parecia que tinha sido  arrancado. Percebeu então que as pessoas não se importavam com os animais ali.
   Nesta mesma rua, viu um punk que conhecia, viu quando ele vestiu sua jaqueta de couro , mas que a jaqueta era sua própria pele, cheia de piercings e spikes.
   Entrou então em casa, mas sentiu que tinha algo estranho. Olhando para o teto,
sentiu que não queria ficar ali. Olhando pela janela viu pessoas vindo e soube na hora que estavam atrás dele será que em nenhum mundo teria sossego? Quebrou o telhado e saiu pulando pelos tetos das casa em volta.
  Acordou e me contou o que tinha vivido, mas nunca mais foi o mesmo. De vez enquanto vejo nele um olhar estranho. Como se estivesse de novo naquele lugar, como se trouxesse no rosto a mascára dourada, e no braço a frieza e rigidez do ouro. O artefato que o tornava parte daquele lugar, onde só era importante fazer repetidas vezes o que se quer, ganhar bem por isso e nada mais.
  O lugar que chamou de O céu dos que não se importam.

  Mas ele se importava.

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